Por Nathália Pandeló Corrêa
Quando se dá play em rising, segundo disco de mxmtoon, os acordes de ukulele soam familiares. Porém, a faixa de abertura, “mona lisa”, logo se revela um pop solar, com baterias empolgantes, um coro crescente no refrão e uma letra otimista. É aí que fica claro que Maia está trilhando caminhos completamente novos para seu projeto, tão associado ao bedroom pop, lo-fi e folk pop.
A cantora californiana acaba de completar 22 anos, o que faz dela uma parte importante de uma cena jovem do pop que canta de peito aberto sobre suas dores, escolhas, dificuldades e amores. Essa sinceridade rasgada é cada vez mais comum em cantoras pop, e o que as aproxima tanto de um público sedento por músicas que dialoguem com a sua realidade.
O caminho até mxmtoon entender o poder do que compartilhava em suas canções e o significado de ser uma jovem mulher, de ascendência asiática e bissexual, falando sobre identidade, pertencimento e as dores de crescer chegaram ao clímax com este novo trabalho. Como o nome entrega, rising vem no crescente do disco de estreia, the masquerade, e dos EPs dawn e dusk, e mostra uma artista que se apodera da sua voz de compositora, intérprete e produtora para criar algo que nunca foi tão… ela mesma.
Maia conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre esse novo momento, sobre colaborações com outros artistas e sobre a possibilidade de vir ao Brasil pela primeira vez. Confira abaixo!
TMDQA! Entrevista mxmtoon
TMDQA!: Oi Maia, obrigada pelo seu tempo! Adoro esse novo disco e posso estar falando o óbvio aqui, mas você nunca foi tão pop. Só que ainda dá pra sentir a garota que começou no quarto anos atrás, com o ukulele. O que você acha que ainda tem daquela artista e do que acha que abriu mão completamente?
mxmtoon: Uhm… Acho que o principal que eu ainda mantenho em mente quando estou criando é pensar que tipo de música eu gosto de ouvir. Sinto que nesse projeto, era uma grande progressão pra mim em termos de produção, mas acho que é o mais próximo que eu estive de fazer música exatamente como eu queria. No passado, algumas músicas que eu fiz ficaram daquele jeito porque eu não sabia de que outro modo eu poderia fazer música, só tinha feito no ukulele e cantando, eu não sabia como falar com produtores e compositores para me ajudarem com a minha visão criativa. Acho que mantive em mente o que a minha versão de seis anos de idade adoraria ouvir, e como fazer um disco que é totalmente esse tipo de música. E abri mão dessa pressão de ficar no tipo de som que as pessoas esperavam de mim. Parece que fui para trás para poder dar passos à frente (risos).
TMDQA!: E faz sentido. Ainda nesse tópico, sei que não é desse disco novo, mas em “Wallflower” você canta algo tipo “ninguém me falou que ia ser assim”. Então se você pudesse voltar atrás, como a Maia de hoje, e se dar alguns conselhos, algo que dissesse “ei, vai dar tudo certo”… o que você diria para a garota que estava começando?
mxmtoon: Acho que seria tentar me lembrar que muito da pressão que eu sinto está na minha própria cabeça. As pessoas são seus piores críticos, sempre vamos ser as pessoas que serão ruins com a gente mesmo, porque nos conhecemos melhor e é fácil e rápido ser crítico de quem somos.
TMDQA!: Especialmente nós garotas, né?
mxmtoon: Meu Deus, sim! Como garotas, temos muita pressão externa que recai sobre a gente, mas também somos muito críticas do modo como agimos, falamos, pensamos, fazemos, parecemos… E gostaria de poder voltar à minha versão mais jovem e dizer para mim mesma que estou bem do modo como sou, sem sentir pressão de ser outra pessoa. E que está tudo bem crescer e descobrir quem sou, para além do entendimento das outras pessoas. Gostaria de poder ter sido a irmã mais velha dela! Voltar e dizer que ia ficar tudo bem.
TMDQA!: Certamente teria sido mais fácil assim, mas existe um motivo porque as coisas seguem essa sequência, né?
mxmtoon: Com certeza.
TMDQA!: Agora, não é nenhum segredo que suas letras podem ser um pouco tristes. Não sei se já te falaram isso (risos).
mxmtoon: (risos) Sim, é verdade!
TMDQA!: Mas rising tem um otimismo inerente, a começar pelo título, né? E a gente tá vindo de anos bem complicados. Você colocou esse objetivo de fazer um disco pra cima ou foi só algo que aconteceu naturalmente?
mxmtoon: Acho que só acabou ficando assim. Eu percebi que, porque os últimos três anos foram tão difíceis para todo mundo, na minha própria vida eu senti que eu precisava fazer algo que me lembrasse que as coisas iam ficar bem. Porque não parecia que ninguém tinha esperança no meio de tudo que estava acontecendo. Estava difícil olhar para o mundo e pensar “vamos superar isso”. E ainda temos momentos em que não temos certeza de que vamos sobreviver a isso, recebemos notícias ruins o tempo todo. Queria fazer um disco que eu pudesse ouvir e me sentir feliz, que pudesse reconhecer o fato de que as coisas estão num lugar muito ruim – e elas ainda não estão ótimas -, mas ainda ter essa pequena luz no fim do túnel, que pudesse ficar lá. Eu não sei se fiz assim de propósito, mas sei que precisava disso em algum momento, então me joguei nisso totalmente.
TMDQA!: Bom, não sei se foi de propósito, mas certamente funcionou!
mxmtoon: (risos) É!
TMDQA!: Agora, pensando nas letras, você parece escrever de um lugar de sinceridade. Não importa se as histórias que você conta são verdadeiras ou não, porque elas parecem de fácil identificação com o público. Existe a possibilidade de que em algum nível, você usa o ato de compor como uma forma de terapia?
mxmtoon: Sim! Acho que comecei a escrever músicas porque eu não fazia terapia (risos), então colocava nas letras o que eu estava sentido.
TMDQA!: E saía mais barato também, né?
mxmtoon: É muito mais barato escrever uma música do que fazer terapia! (risos) Mas eu ainda faço isso hoje, ainda é a forma como processo como me sinto, e acho que porque hoje também faço terapia além de escrever as músicas, eu consigo olhar de um ponto de vista mais otimista quando escrevo as palavras que quero colocar no papel, ao invés de isso ser só a minha única forma de escape. Minhas primeiras músicas, acho que são bem mais tristes, porque eu não tinha outra forma, além de compor, para pensar sobre o que sentia. Agora acho que consigo ir para as minhas sessões e deixar a minha versão mais triste lá, mas sair de lá e pensar: “ok, agora que processei isso melhor, como faço algo que reconheça esses sentimentos, mas também me dê um caminho para sair disso?”.
TMDQA!: E pra deixar claro, todo mundo que pode deveria fazer terapia!
mxmtoon: Com certeza! É que é tão caro, que nem culpo quem não faz (risos).
TMDQA!: Ah, se todo mundo pudesse compor músicas…
mxmtoon: Né? (risos)
TMDQA!: Agora, dentro desse tópico das músicas serem pessoais, notei que você não convida muitos artistas pra cantarem nas suas canções. Sei que você colabora com artistas nas músicas deles, mas não nas suas. E como é algo tão comum na indústria, queria entender se há um motivo. Aliás, a única que você chamou foi a Carly Rae Jepsen, então acho que não dá pra ser melhor que isso!
mxmtoon: Nossa, é difícil superar (risos). Mas muito do meu projeto é sobre minha experiência de crescer na internet e diante de tanta gente. Carly Rae Jepsen pareceu uma colaboração muito natural, porque ela foi parte importante da minha infância e de eu entender meu amor pela música desde muito cedo. Envolvê-la em um projeto parecia muito natural, porque acrescenta à história que eu venho contando com as minhas composições há tanto tempo. E nesse novo disco houve a pergunta “e aí, vamos chamar outros artistas para colaborar?”, e eu percebi que rising é o último capítulo da história que eu venho contando ao longo dos últimos três anos de the masquerade, dawn, dusk e agora esse disco. Parecia importante ser só eu e focar em mim contando a história, ao invés de trazer outra voz para isso. Acho que colaborações são super importantes e poderosas, quando você descobre uma forma de fazer. Acho que pode ser incrível, mas parecia o certo nesse momento dizer, “ok, vou fazer isso sozinha e vou descobrir como fazer bem”. E acho que fiz!
TMDQA!: Com certeza! Mas vem cá, só entre nós duas: ela é tão legal quanto parece?
mxmtoon: Nossa, sim! Carly Rae Jepsen não é apenas um gênio criativo, mas é uma pessoa adorável. Se você tem a chance de conhecê-la, ela não decepciona. Você deveria conhecer seus heróis de vez em quando, sabe? (risos)
TMQDA!: Sim! E não sei se já te falaram isso, Maia, mas você é muito jovem!
mxmtoon: Já sim! (risos)
TMDQA!: E acho que há algo de condescendente nas pessoas ficarem apontando isso sempre que falam de você. Porque com 20 e poucos anos, você já passou por bastante coisa e pode falar sobre elas. Existe algo que você gostaria que as pessoas entendessem sobre jovens mulheres que elas não enxergam, porque não as escutam?
mxmtoon: Sim. Acho que você entende isso. As pessoas em geral não levam mulheres a sério, desde o princípio, e em especial mulheres jovens. Eu fui pintada como “a adolescente em seu quarto” desde o momento que comecei a fazer música e não há nada de errado com isso. Há algo de empoderador nisso, porque pode inspirar outras meninas a se sentirem empoderadas para pegarem suas próprias histórias e compartilharem na internet ou em qualquer outro lugar. Mas gostaria que as pessoas entendessem que as mulheres jovens são super poderosas. Elas se compreendem num nível porque precisamos, desde o primeiro dia, lutar por nós mesmas, lutar pelo direito de existir em espaços criativos e ainda precisamos, todos os dias. E as pessoas deveriam nos dar mais crédito por entender o quão poderosas e resilientes somos, porque levamos tantos socos todos os dias de pessoas que não acreditam em nós, que não acham que merecemos estar em espaços como este. Mas ainda estamos aqui, e por um motivo: somos dignas de estar aqui. Então gostaria que as pessoas entedessem que, independente da idade de uma pessoa, todos têm algo importante para dizer e compartilhar.
TMDQA!: Bom, nós jornalistas tendemos a colocar as pessoas em caixinhas, para tentar entendê-las e explicá-las para as outras pessoas. Mas isso é só uma simplificação de quem você é. Você é uma garota, num quarto, com ukulele, asiática, etc. Mas ninguém é uma coisa só, certo? É só as pessoas darem play nas suas músicas que elas vão entender.
Agora, pra terminar, acho que você já deve imaginar: talvez suas menções no Instagram estejam cheias de “come to Brazil”. É assim que a gente faz as coisas acontecerem nesse país!
mxmtoon: Sim! (risos)
TMDQA!: Você já está em turnê. Talvez ano que vem chegue por aqui?
mxmtoon: Eu não tenho planos atualmente. Vou para a Austrália, Nova Zelândia, Europa e Londres pela primeira vez para fazer turnê no fim do ano, então muitas coisas novas estão acontecendo pra mim, e acho que isso abre as portas mais ainda para ir a outros países, como o Brasil, para fazer shows. Estou trabalhando nesse sentido, estou empolgada pelo dia em que vou conseguir fazer isso acontecer, porque sei que as pessoas estão empolgadas, eu também estou! Estou cruzando os dedos, torço pra que consiga fazer acontecer.
TMDQA!: Sabe que se você seguir numa linha reta da Austrália, você vai bater no Brasil, né?
mxmtoon: (risos) É, eu só vou a pé, depois pego um barco, vai dar tudo certo!
TMDQA!: Então faça isso, estaremos aqui esperando.
mxmtoon: Vou fazer meu melhor!