Ganhar status de grande banda é uma missão de praticamente qualquer artista, e talvez o maior sonho de muitos. Ainda assim, várias vezes a permanência nesse lugar de respeito acaba sendo mais desafiadora do que a chegada.
Ao longo da história da música, temos diversos exemplos de artistas e grupos que atingiram esse patamar tão desejado mas, com o tempo, acabaram caindo de rendimento e, por mais que não tenham necessariamente perdido o status, viraram notavelmente alvos de críticas ou decepções por parte dos fãs.
Um ótimo exemplo de banda que passou por isso é o Metallica, que teve um período bem complicado no final dos anos 90 e início dos 2000; no entanto, as lendas do Metal conseguiram se reencontrar e retomar o alto nível da carreira com bons trabalhos em anos recentes.
Abaixo, você pode conferir alguns exemplos que não tiveram a mesma sorte (ou competência?), ao menos por enquanto. Vale lembrar que não estamos falando de bandas que perderam público ou foram esquecidas, mas sim das que não conseguem mais trazer o mesmo nível de composição e discos consagrados há algum tempo, ainda que tenham shows excelentes e disputados.
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The Smashing Pumpkins
Banda que inspirou essa lista, o Smashing Pumpkins tem um status de clássico irreversível e é daqueles grupos que vão estar sempre atraindo fãs onde fizerem shows graças a um catálogo impressionante que inclui discos como Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) e Siamese Dream (1993).
No entanto, é possível dizer que desde Oceania (2012) os Pumpkins soam perdidos, quase como um projeto megalomaníaco de Billy Corgan. De lá pra cá, vieram trabalhos como o pouco memorável (mas ainda interessante) Monuments to an Elegy (2014) e o quase totalmente esquecido Cyr (2020).
Agora, Billy anunciou o lançamento do novo álbum ATUM, que é uma ópera rock divida em três partes e deve ser completado em 2023. Para além do nome, fica difícil defender, né?
Muse
Conhecido pelo pioneirismo de sonoridades que exibiu com maestria em discos como Origin of Symmetry (2001), Absolution (2003) e Black Holes and Revelations (2006), o Muse teve uma queda bem brusca que começou depois de The Resistance (2009).
Em The 2nd Law (2012) a banda ainda conseguia agradar com algumas sonoridades novas sendo exploradas, mas já passou a ser vista como ultrapassada com a chegada de Drones (2015) e principalmente com Simulation Theory (2018), onde parecia que os caras não estavam mais ditando a moda e sim tentando segui-la (com anos de atraso).
Em 2022, lançaram o bom disco Will of the People, que tem alguns momentos de retorno à forma como “Euphoria” e “Won’t Stand Down”. Ainda assim, está longe de retomar a qualidade de antes — mas quem sabe?!
The Killers
Em 2004, quando Hot Fuss chegou ao mundo, o The Killers se tornou um verdadeiro fenômeno. O disco se tornou absolutamente fundamental para aquela década, apresentando hits como “Mr. Brightside” e “Somebody Told Me” em meio a tantas outras grandes canções que se tornaram hinos de uma geração.
Apenas dois anos depois, Sam’s Town conseguiu manter os caras no topo com mais sucessos como “When You Were Young”, mas a coisa começou a mudar com Day & Age, em 2008. Já com uma sonoridade diferente, o The Killers ainda conseguiu emplacar “Human” como um grande hit, mas Battle Born (2012) talvez tenha sido o último bom momento da banda.
Depois de trabalhos pouco memoráveis em Wonderful Wonderful (2017) e Imploding the Mirage (2021), o grupo de Brandon Flowers mudou totalmente de identidade para lançar Pressure Machine (também de 2021) mas, ainda assim, não vem convencendo os fãs.
A boa notícia é que “boy”, primeiro single de uma nova fase iniciada em 2022, dá sinais de uma retomada interessante e é provavelmente o melhor material dos caras em 10 anos.
Arcade Fire
Quando ganhou o Grammy por The Suburbs (2010), o Arcade Fire se tornou um exemplo de como era possível ser uma banda “fora do mainstream” e furar a bolha com um som verdadeiro. Essa construção não veio do dia pra noite, com o grupo já tendo ótimos momentos antes com Funeral (2004) e Neon Bible (2007), mas parece ter ido embora com certa rapidez.
Era óbvio que The Suburbs seria o auge da banda, e Reflektor (2013) até conseguiu mantê-los em um bom nível. Mas, depois de cumprir essa tarefa difícil, eles resolveram ousar no lançamento de Everything Now (2017) e mudaram de direção, trazendo elementos que não agradaram muitos dos fãs de longa data.
Depois de mais um longo hiato, veio WE em 2022 e, para além da fraca recepção do disco novo, a saída de Will Butler e as denúncias de abuso envolvendo Win Butler parecem ter colocado o Arcade Fire em seu ponto mais baixo da carreira. Resta saber se eles vão conseguir sair!
The Black Keys
Quem lembra do delírio coletivo que foi o The Black Keys como headliner do Lollapalooza Brasil? É fácil falar do duo assim hoje, mas o sucesso de músicas como “Lonely Boy” e “Gold On the Ceiling” era tanto na época que fazia todo sentido do mundo ver Dan Auerbach e Patrick Carney como atrações principais de um grande festival.
O momento era também de um resgate do Rock, e a dobradinha Brothers (2010) e El Camino (2011) foi uma das pedras fundamentais da década passada, resultado de uma trajetória que havia começado cerca de 10 anos antes e gerado diversos materiais incríveis como os discos Magic Potion (2006) e Attack & Release (2008), subestimados até hoje.
No entanto, tudo começou a mudar de panorama com a chegada de Turn Blue, em 2014. Já em um momento diferente, o grupo tentou trazer elementos novos e não agradou, perdendo muitos fãs e “presenteando” os que ficaram com o questionável “Let’s Rock” (2019).
Agora, depois de voltar às suas origens em Delta Kream (2021), o duo tenta retomar a boa forma com Dropout Boogie (2022), mas ainda está longe do patamar que atingiu um dia. Será que volta?
Weezer
É sempre divertido quando a gente vê bandas que não se levam a sério, mas o Weezer talvez seja um exemplo de como fazer isso de forma muito exagerada pode complicar as coisas.
Clássicos dos anos 90 e 2000 como “Island in the Sun”, “Buddy Holly”, “Say It Ain’t So” e tantos outros ainda sustentam a carreira do grupo liderado por Rivers Cuomo, que virou uma verdadeira bagunça nos últimos anos e teve até que recentemente cancelar um ambicioso projeto na Broadway devido à baixa venda de ingressos.
É difícil marcar onde exatamente o Weezer começou a se perder, mas muitos apontariam o disco Make Believe (2005) e o irônico hit “Beverly Hills”. Dali pra frente, ainda que tenham surgido boas músicas como “Memories” (em Hurley, de 2010) e o “Disco Branco” seja bastante competente, a coisa só piorou, com várias críticas a um disco de covers que surgiu depois do improvável sucesso de uma versão piadista de “Africa”, do Toto.
Em 2021, os caras lançaram dois discos — o até relativamente elogiado OK Human, em um tom mais sério, e Van Weezer, que incorpora elementos dos Anos 80 sob a premissa do bom humor. Já este ano a banda traz o projeto SZNZ, com um disco a cada estação do ano. Infelizmente, já estamos no terceiro lançamento e muita gente não ouviu nem o primeiro — e ninguém está perdendo muita coisa.
The Strokes
Talvez o único caso dessa lista em que fizemos contar as performances ao vivo, o The Strokes até tem conseguido produzir bons materiais em estúdio.
Claro, nem dá para se esperar que novos lançamentos tenham o mesmo impacto do que clássicos do Indie como Is This It (2001) e Room On Fire (2003), mas a banda mostrou com The New Abnormal (2020) que ainda sabe fazer boas músicas e conquistou bons números com faixas como “Bad Decisions” e “The Adults Are Talking”. Há muitos fãs, inclusive, que consideram esse o melhor disco de toda carreira do grupo.
O problema realmente fica nos shows, onde os fãs constantemente trazem reclamações sobre a falta de vontade de Julian Casablancas, e o vocalista parece compartilhar essa energia com seus companheiros de banda. Tem que ser muito fã para sustentar!
Tame Impala
Quando lançou a dupla InnerSpeaker (2011) e Lonerism (2012), Kevin Parker viu o Tame Impala ocupar um espaço até então inédito entre o mainstream e o underground com a sua mistura única de Pop e Rock Psicodélico. Foi muito graças ao australiano que esse tipo de música voltou a ser moda, e foi ele mesmo quem surfou nessa onda da melhor forma possível.
Falamos, claro, do incrível Currents (2015). Um dos melhores discos da década passada, deu à luz hits como “The Less I Know the Better”, “Let It Happen” e “New Person, Same Old Mistakes”, que chegaram até a massa de uma maneira que era virtualmente inédita para uma sonoridade desse tipo, ao menos na era moderna.
No entanto, depois de 5 anos, o “retorno triunfal” não foi tão triunfal assim. Em The Slow Rush, o Tame Impala até entrega boas músicas mas não consegue repetir a magia do antecessor, e mesmo todo o hype em volta do álbum não foi suficiente para levá-lo às graças do grande público.
Ainda assim, vale ressaltar, a banda segue lotando shows e fazendo diversas parcerias — o que não é necessariamente algo bom, já que muitas dessas são remixes e podem indicar uma direção futura que não vai agradar tanta gente assim.
Panic! At the Disco
É inegável que Brendon Urie é um dos grandes artistas e compositores da era moderna, mas o Panic! At the Disco parece ter se perdido completamente nos últimos anos e se tornado o projeto de uma espécie de ego trip do vocalista, que explora direções cada vez mais megalomaníacas e deixa de lado a qualidade de suas composições.
Seria até injusto voltar aqui no clássico A Fever You Can’t Sweat Out (2005), mas mesmo em trabalhos mais recentes com mais toques pessoais de Brendon, como Too Weird to Live, Too Rare to Die! (2013) e Death of a Bachelor (2016) era possível identificar músicas excelentes, o que parece ter caído demais com os últimos dois discos.
Ainda que Pray for the Wicked (2018) tenha abrigado o maior hit de Rock dos últimos tempos, “High Hopes”, a mudança para uma sonoridade totalmente radiofônica afastou vários dos fãs mais tradicionais do Panic!.
Já sem eles, Brendon resolve ir mais além em Viva Las Vengeance, disco de 2022 que foi gravado de forma totalmente analógica no que parece ser mais um projeto de vaidade do cantor e compositor do que algo de fato necessário. E quem foi a shows recentes da banda ainda teve que ouvi-lo na íntegra, com hits do passado sendo deixados de lado…
The Offspring
Banda mais clássica da lista junto com o Smashing Pumpkins, o The Offspring não precisa fazer novas músicas. Ainda assim, resolveu fazê-las e dá pra dizer que desde Conspiracy of One (2000) os caras não conseguem acertar a mão, com exceção de um ou outro momento como “You’re Gonna Go Far, Kid” (em Rise and Fall, Rage and Grace, de 2008) e a faixa-título do trabalho mais recente, Let the Bad Times Roll.
O álbum de 2021 não é o pior da discografia da banda, mas veio depois de uma espera de quase 10 anos desde Days Go By (2012) e isso definitivamente somou à expectativa. Para os fãs que esperaram tanto, o “presente” foi uma versão mais genérica e menos empolgada do Offspring, o que definitivamente não agrada a muitos, quanto mais quando se trata de um banda cujos fãs reclamam desde a popularização com Americana em 1998.
A parte boa é que os sucessos de Smash (1994), Ixnay on the Hombre (1996) e todos os outros clássicos continuam sendo tocados ao vivo, em um dos shows mais potentes do planeta como ficou claro no Rock in Rio 2022. Tá valendo!