Por Rafael Teixeira e Felipe Ernani
O Mineirão, maior estádio de Minas Gerais e quinto maior do Brasil, sempre foi palco de grandes shows, turnês internacionais e festivais. Após uma recente decisão de Ronaldo, sócio-proprietário do Cruzeiro, o estádio poderá ficar apenas com esses eventos e sem o futebol, que sempre foi sua principal marca.
O ex-jogador, que hoje é dono da SAF do clube, anunciou nesta terça-feira (24) durante live em seu canal que rompeu relações com a Minas Arena, empresa que administra o Mineirão junto com o Governo do Estado.
Ronaldo disse que o Cruzeiro irá mandar seus jogos no Independência até o fim do ano, fez muitas críticas ao contrato em vigor e ironizou dizendo que o Mineirão “vai virar uma casa de shows muito bacana”.
Embora o ex-jogador não tenha mencionado na transmissão, seu clube precisou remarcar algumas partidas importantes em 2022 por causa de eventos no estádio. Por conta do prejuízo causado por isso, o dirigente parece irredutível em seu posicionamento:
Esse ano damos como rompida nossa relação com a Minas Arena. Não jogaremos nenhum jogo no Mineirão neste ano. Eu acho que é um problema importante que o Governo de Minas Gerais precisará resolver.
As condições [da Minas Arena, concessionária que administra o estádio] sempre foram horríveis para o Cruzeiro. A Minas Arena tem um contrato muito confortável com o Governo, em que eles têm todas as armas nas mãos para fazer boas negociações para eles e nunca boas para a gente.
Sei que os cruzeirenses têm o Mineirão como a sua casa, mas estamos em um contrato muito mal feito, um dos piores que o Governo tem. Logicamente que a Minas Arena está muito confortável. O Mineirão vai virar uma casa de shows muito bacana. Eles priorizaram isso.
Atualmente, como conta o site GOAL, o Cruzeiro tem direito a 54 mil ingressos no local, e divide de forma igualitária com o Mineirão os outros 8 mil bilhetes que podem ser comercializados.
No entanto, o clube é responsável pelos custos do jogo, incluindo despesas como segurança, e não tem acesso a receitas de outros espaços do estádio, como bares e estacionamento.
Mineirão, shows emblemáticos e embate com Ronaldo e o Cruzeiro
Em 2023, o Mineirão já foi palco para o festival SummerTimes, com Jack Johnson e Racionais MC’s. No ano passado, estiveram por lá nomes como Metallica, Guns N’ Roses, Demi Lovato e Gal Costa, além do histórico show de despedida de Milton Nascimento.
Neste ano, ainda há a previsão de realização de diversos espetáculos musicais e esse também parece ser um impasse na negociação. De acordo com o GOAL, a ideia de Ronaldo envolveria até mesmo um percentual de arrecadação em shows como o de Gusttavo Lima, que se apresenta no dia 1º de Abril.
Em meio a tudo isso, vale ressaltar que apenas 20% do faturamento do estádio em 2022 veio de shows e eventos. Segundo levantamento da Minas Arena, foram realizados 55 jogos de futebol no ano passado, rendendo cerca de R$466 milhões.
Precisando recuperar essa importante parcela após ter sido pega de surpresa com a decisão de Ronaldo, a empresa anunciou que vai tentar retomar o diálogo com o Cruzeiro, dizendo que “é impensável o Mineirão sem futebol”.
Governo de Minas Gerais resolveu intervir
O Governo de Minas Gerais se ofereceu para ajudar com o impasse, dizendo que poderá negociar diretamente com os clubes as 66 datas às quais o futebol tem direito em 2023. O Estado também quer criar um comitê com representantes de América, Atlético, Cruzeiro, CBF e cidadãos.
Segundo o portal Superesportes, o secretário de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais, Fernando Marcato, deu entrevista coletiva nesta terça-feira (24) e sugeriu que seja imposta por contrato a função principal do estádio, o que daria esta prioridade aos clubes:
Deixar claro justamente a função do estádio. Futebol, é futebol? Então, vamos definir isso com clareza, não deixar uma cláusula fluida, mesmo um comitê fluido. Vamos deixar isso escrito com todas as letras para não ter que ter esse tipo de disputa.
Vale lembrar que o Atlético-MG, outro grande clube de Belo Horizonte que manda suas partidas no Mineirão, terá o seu próprio estádio a partir de junho, enquanto o América-MG é o proprietário do Independência.