Com coragem para apostar em uma sonoridade a qual seus fãs não estavam acostumados, Mateus Carrilho dá início a sua nova era com o lançamento de “Menino”, primeira prévia do seu disco de estreia solo.
Conhecido principalmente pelo tecnobrega da Banda Uó e pelo arrocha com batidas eletrônicas do hit “Corpo Sensual”, sua parceria com Pabllo Vittar, Mateus decidiu apresentar ao público um outro lado de suas influências.
Em conversa com o TMDQA!, o músico conta que o período da pandemia foi essencial para que ele pudesse se descobrir e entender o que iria fazer com que ele se sentisse mais completo enquanto artista. E a partir disso, decidiu apresentar em seu próximo projeto uma nova roupagem de suas referências da música brasileira.
Estudando grandes nomes da música como Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Cartola, João Gilberto e artistas de sucesso do momento atual como Kevin O Chris e João Gomes, Carrilho desenvolveu seu novo disco, ainda sem título, que possivelmente será lançado neste primeiro semestre.
Para oferecer aos fãs um gostinho do que vem por aí, Mateus Carrilho disponibilizou o single “Menino”, que ele considera “a primeira ou a segunda [faixa] mais bonita” do seu novo disco.
A música, inspirada em “Menino do Rio” de Caetano, chega acompanhada por um clipe solar, gravado nas praias do Rio de Janeiro e que mostra, segundo Carrilho, uma brincadeira sobre os amores de verão. Sobre o tema do vídeo e da música, ele acrescentou:
Quantas vezes eu fui naquela cidade e me vi totalmente apaixonado, né? Achando que ia casar em dois dias. Então, ‘Menino’ ele pode ser tanto um amor para a vida inteira, ‘te encontrei, não vou te deixar’, quanto aquela coisa momentânea também que você acha que vai ser pra vida inteira e também não é. É uma faixa super solar, assim como toda essa era que caminha em cima dessa paixão pelo Brasil.
No papo, Mateus compartilhou mais alguns detalhes sobre o processo de criação do seu próximo disco e refletiu sobre sua carreira e a luta para conquistar um espaço. Confira nossa conversa na íntegra e o clipe de “Menino” logo abaixo.
TMDQA! entrevista Mateus Carrilho
TMDQA!: Você está dando início a uma nova fase, explorando uma estética visual e sonora diferente do que os seus fãs estão acostumados. Em que momento você decidiu fazer essa mudança e explorar essas outras vertentes da música?
Mateus Carrilho: Olha, eu já começo o ano de 2020 sabendo que eu queria alguma coisa nova. E eu acho que ali desde o fim da banda Uó eu queria meio que fazer isso, só que eu não tive coragem suficiente porque rolou aquele bum de “Corpo Sensual” né? Que foi um mega hit no Brasil inteiro e aí aquilo dali influenciou demais na minha jornada. Então eu explorei mais aquele lado ali que era um lado que estava mais próximo do que eu fazia e aí eu senti que não estava do jeito que eu queria ainda, porque eu queria me sentir mais completo enquanto artista né e eu começo 2020 já nessa busca assim. Mas eu acho que foi uma coisa gradativa durante a pandemia, foi onde eu realmente por ter ficado muito sozinho e por ter exercitado muito meu processo de composição, que foi uma das coisas que eu desenvolvi muito durante a pandemia na falta de ter o que fazer. E eu fui me descobrindo, e esse disco é muito sobre isso mesmo assim, sobre essa descoberta artística minha e sobre essa vontade de me redescobrir enquanto artista e então, digamos que os últimos dois anos foram fundamentais para eu chegar aqui agora. E esse disco ele talvez ele não existiria, quer dizer, não é que talvez não. Ele não existiria em 2020. Então eu acho que o tempo também foi maravilhoso para eu amadurecer, né?
TMDQA!: No seu novo single, “Menino”, você explora o samba, a MPB, o pop soft. Quais foram suas principais referências no processo de criação da música e do disco?
Mateus Carrilho: O meu disco é muito sobre isso. Porque quando eu fui escrever esse disco e ter a ideia, a concepção dele, eu falei “cara, o que que me traduz um pouco enquanto artista?” E aí eu voltei lá no início, tanto da minha adolescência quanto ali do meu início enquanto artista e eu vi que eu sempre fui apaixonado pelo Brasil, né? Eu sempre fui apaixonado pelos nossos ritmos, sempre fui apaixonado pela nossa estética. Se você pegar o meu clipe de dez anos atrás, a gente gravou ele num chão de terra batido, sabe? Com um gol quadrado, então essa estética brasileira e essa paixão pelos ritmos brasileiros sempre foi uma coisa que esteve dentro de mim.
Então, eu trouxe isso agora numa nova roupagem porque eu não sou mais aquele garoto de 22 anos, né? Hoje em dia eu já sou um homem mais velho, eu já passei dos trinta, então eu uso referências diferentes e eu mergulhei muito na música popular brasileira mesmo. Eu estudei grandes compositores tipo Caetano [Veloso], Jorge Ben, Cartola, que é uma coisa que eu escutava desde novinho também que eu que eu voltei agora também nessa coisa da brasilidade e tem muita gente também do momento atual assim, Kevin O Chris é um compositor que eu amo, que me influenciou também, acho as melodias radiofônicas dele maravilhosas. O próprio João Gomes também, o meu disco ali ele tem vários momentos e existe um momentinho ali que quem é fã vai entender que tem “quêzinho” ali, uma inspiração em João Gomes que é um artista tão talentoso da atualidade também. Tem uma faixa que eu adoro que se chama “Beijar sua boca” e ela bebe do axé ali 90, eu sou uma criança dos anos 90 né? Então eu fui regada e nutrida a axé, então tem ali um “quêzinho” de Cheiro de Amor, tem um “quêzinho” de banda Eva das antigas e por aí vai.
Para “Menino” eu me inspirei bem em Jorge Ben, Caetano, “Menino do Rio”. Eu estava contando até em outra entrevista, que “Menino do Rio” é uma das minhas músicas favoritas e eu acho que agora nessa nova roupagem, até de uma maneira inclusiva, né? Tipo, é um homem fazendo um samba pop, cantando para outro homem, né? Então a gente tem essa atualidade. É o que eu sempre digo, eu bebi de coisas do passado, só que eu acho que o meu disco é extremamente contemporâneo assim, ele é moderno, sabe? Ele é de agora.
TMDQA!: Falando de “Menino”, me conta um pouco mais sobre a história da música, o que você aborda na letra e qual é a trama que você apresenta no clipe?
Mateus Carrilho: “Menino” traz muito essa vibe do Rio de Janeiro, foi por isso que quando a gente foi gravar o clipe eu falei pra minha equipe eu falei “oh, não tem a menor condição desse clipe ser gravado em outro lugar”. Essa faixa é a cara do Rio, né? Tem a referência de “Menino do Rio”, então eu quis muito brincar com essa história e também sobre os amores de verão, sabe? Sobre os amores que eu encontrei quando eu fui ao Rio de Janeiro, quantas vezes eu fui naquela cidade e me vi totalmente apaixonado, né? Achando que ia casar em dois dias. Então, “Menino” ele pode ser tanto um amor para a vida inteira, “te encontrei, não vou te deixar”, quanto aquela coisa momentânea também que você acha que vai ser pra vida inteira e também não é. É uma faixa super solar, assim como toda essa era que caminha em cima dessa paixão pelo Brasil.
TMDQA!: Já que você falou sobre essa paixão pelo Brasil, eu li que tanto no single como no disco você pretende celebrar o que é do Brasil. Qual é a importância de resgatar esses elementos e trazer isso no seu trabalho?
Mateus Carrilho: Eu sou um garoto do interior, é um garoto que cresceu brincando na rua, vendo o pai fazer roda de samba com os amigos, brincando na porta de barzinho, então isso é muito sobre essa maneira que o Brasil cria a gente. Acho que eu só sou quem eu sou e, acredito que a maioria dos brasileiros, por causa desse calor que esse país passa pra gente, esse carisma que a gente foi educado, de ser gente boa. E lá em Goiânia, apesar de ser uma terra sertaneja, existe um lado b muito forte, eu fui criado numa cena totalmente independente desde novinho. Eu acho que é muito sobre as minhas paixões e as nossas, então eu quis celebrar o nosso clima, a nossa estética, a nossa cultura, a nossa arte e principalmente a nossa música, que é a música mais linda do mundo, né?
TMDQA!: Qual é a mensagem que você acredita que o público vai captar da música?
Mateus Carrilho: Olha, dá um friozinho na barriga porque realmente é uma coisa nova e eu acho que ao longo da vida essa é a graça de ser artista você, é você se descobrir o tempo todo e você se movimentar e não ficar sempre no mesmo lugar. É isso que me motiva a continuar aqui fazendo música e fazendo arte. Então, você pode ter certeza que se eu continuar parado no mesmo lugar eu vou ser uma pessoa infeliz, eu não vou entregar um trabalho que eu acho que é bonito, eu vou estar sempre em movimento e essa é a graça pra mim de ser artista. Então, eu espero que os meus fãs recebam isso com muito carinho, me apoiem, porque eu acho que eu vou lançar músicas super lindas assim, que foram feitas com muito amor, com muita dedicação, trabalhei com produtores muito talentosos e eu dei o melhor de mim porque eu realmente quero fazer algo que daqui a dez anos eu me orgulho, sabe? Que daqui a dez anos eu cante com o mesmo gosto, com o mesmo amor, e essa foi um dos principais “starts” que eu tive né? Eu falei “véi, o que que eu vou querer fazer daqui a cinco anos. Que que eu vou querer fazer daqui a dez anos? O que que eu vou celebrar?” Então eu preciso disso e eu acho que é pra vida toda.
TMDQA!: E falando justamente sobre essa mudança, qual é o principal desafio em apostar em algo novo quando você já tem uma base de fãs consolidada que te acompanha desde a Banda Uó?
Mateus Carrilho: Acho que a coragem e os acontecimentos dos últimos anos nos levaram a entender que a vida é curta e ela está passando e não dá pra deixar pra amanhã. Então foi essa coragem que me motivou a falar “não, eu vou fazer o que eu quero sim e se duas, três pessoas forem no meu show cantar comigo, eu tô feliz porque eu sei que eu tô fazendo uma coisa que eu acredito”. Então, eu acho que é sobre coragem também.
TMDQA!: Mateus, você que já passou pela Banda Uó, deu início a sua carreira solo, lançou alguns feats, como você avalia sua carreira até agora?
Mateus Carrilho: [Risos] Lembrei daquele meme da Jojo “guerreira, humildade não…”. Olha, é duro, eu não vou mentir pra você, falar que é fácil, é muito difícil, são anos lutando pelo meu espaço, lutando pra ter o meu lugar. Acho que agora eu estou num momento muito feliz porque eu tenho a minha carreira nas minhas mãos, eu sou dono dela e eu posso fazer o que eu quiser e isso me deixa extremamente felizão mesmo assim, sabe? Eu sei que eu posso voar e ir pra onde eu quiser, ter essa liberdade artística, então esse ponto me deixa muito feliz. E foi assim quase a vida toda. A gente uma vez ou outra tentou ser inserido no mercado pra ver se conseguia espaços maiores. Mas eu acho que hoje também com a questão da internet, com a questão das tecnologias e como a música ela vem sendo inserida na vida das pessoas, trouxe também muito mais diversidade nesse sentido. Mas eu sou feliz assim. Eu não cheguei totalmente onde eu queria, eu acho que é por isso que nós estamos aqui, vivendo esse momento. Eu tenho o objetivo de chegar lá, mas eu sou um artista feliz e realizado sim.
TMDQA!: Como você já compartilhou aqui com a gente alguns spoilers do disco, o que mais você pode contar? Tem previsão de lançamento do disco? Ele vai ter feats?
Mateus Carrilho: Vai ter feat. Não muitos, poucos. Porque como eu te disse foi uma coisa muito natural. As outras músicas que eu tenho feat eu compus elas já pensando nos feats. Tipo com a Gloria [Groove] né? Eu já compus falando “nossa, aqui vai ser com a Gloria”. E esse disco, como eu fui fazendo essas imersões e ele foi se tornando um pouco mais pessoal, acabou que eu achei que não valia tanto dividir isso com outras pessoas mas tem também. Menos, mas tá lá. A nossa ideia é que ele saia agora no primeiro semestre. Não vou dar um mês exato, mas é por agora. Estamos aí. Também não quero ficar lançando muito single não. O que eu mais lancei foi single, né? Então só um single de surpresa para o povo não levar um susto e aí o resto vem na sequência.
TMDQA!: Pra gente encerrar, como o nome do nosso site é Tenho mais Discos Que Amigos!, queria saber quais discos foram seus melhores amigos durante o processo de criação de “Menino” e do seu novo disco?
Mateus Carrilho: Pra esse disco, eu vou falar três. O “Samba Esquema Novo” do Jorge Ben, o “Amoroso” de João Gilberto e o “El Madrileño” do C. Tangana, um artista espanhol que eu gosto desde a época que ele fazia reggaeton, mas eu queria uma figura pop um pouco mais madura pra me inspirar também. Ser vanguarda é difícil, eu não estou falando que eu sou, que eu fui o primeiro a chegar com o facão não, mas assim, eu queria uma figura. Eu cheguei na maturidade né e eu falava “cara, como continuar sendo um artista pop, sendo que o pop ele vive tanto e bebe tanto da juventude, do frescor e da juventude…”. E o C. Tangana ele foi um artista pop que me ajudou a entender para onde eu podia caminhar sendo contemporâneo. Então, foi um disco bem importante pra mim também.
TMDQA!: Então, o disco tem ali um pouco das suas raízes mais dançantes mas o samba vai ser realmente o ponto principal, é isso?
Mateus Carrilho: Acho que não é nem o principal, mas é o ponto alto. Por exemplo, eu decidi começar com o melhor do melhor na minha opinião. Foi por isso que eu escolhi “Menino” Quando me perguntam porque eu escolhi essa faixa, eu digo que eu escutei o disco inteiro e essa é a primeira ou a segunda mais bonita, que eu acho na minha opinião. E aí eu já escolhi logo pra já chegar chegando né? Não vamos economizar. Mas é um disco que também tem influência de funk, ele tem influência do axé como eu te disse e também a coisinha ali do brega, ele entra só que agora de uma maneira um pouco mais refinada, que precisava conversar com o resto do disco.
TMDQA!: Entendi Mateus. É isso, obrigada pelo papo, sucesso com o lançamento. Estou super curiosa pelo clipe e pelo disco.
Mateus Carrilho: Obrigado e obrigado pela entrevista. Adoro vocês também, acho um site super importante. E é nós, estamos juntos.