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Marina Sena e Luísa Sonza dão início a debate sobre a nova geração da música brasileira após críticas no The Town

Marina Sena fez homenagem a Gal Costa no The Town e dividiu opiniões, abrindo caminho para discussão acalorada (e importante) nas redes sociais.

Marina Sena e Luísa Sonza no The Town
Fotos por Wesley Allen (via Divulgação/The Town)

Nos últimos finais de semana e no feriado de 7 de Setembro, o The Town, que aconteceu em São Paulo, foi uma verdadeira celebração da música nacional e internacional. Recebendo nomes de peso do Brasil e do mundo, o festival mostrou o que há de melhor na indústria atualmente, mas não escapou de polêmicas envolvendo nomes como Luísa Sonza, Marina Sena e Jão.

Um dos shows que mais chamou atenção nas redes sociais foi justamente o de Marina, que esteve na programação do palco The One com uma performance especial dedicada à carreira de Gal Costa. Alguns trechos do show, como o que você pode conferir abaixo, viralizaram fora de contexto e acabaram atraindo diversos comentários de ódio direcionados à cantora mineira.

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Ainda que vários grandes nomes, como o ótimo Emicida e o próprio perfil oficial de Gal Costa, tenham elogiado a performance de Marina Sena, a resistência do público foi grande e acalorou um debate que já vem se estendendo desde algum tempo com novos lançamentos de nomes como Luísa Sonza e Jão, verdadeiros fenômenos da música brasileira que recentemente lançaram, respectivamente, os álbuns Escândalo Íntimo SUPER.

Marina Sena e Luísa Sonza rebatem discursos de ódio

Com a repercussão de sua apresentação, Marina Sena foi ao Twitter para responder os críticos. Em tom de desabafo, a artista relembrou suas origens e a influência de Gal Costa em sua vida, ressaltando que a intenção de seu show não foi transformar-se na “nova Gal”, mas sim se reconhecer como “uma das tantas filhas de Gal”:

Cês juram que se eu fosse ruim eu seria uma menina de Taiobeiras [cidade em MG] que tá conquistando tanta coisa? Por qual motivo isso tudo me seria dado? De graça assim? Não tenho sobrenome, não tinha dinheiro, influência, não tinha absolutamente nada. Não havia nenhum motivo pra eu estar aqui a não ser minha própria coragem, dedicação, autenticidade e talento. Vocês que se mordam! Para o resto da minha vida, por onde eu for eu vou levar o nome de Gal. Não quero ser a nova Gal, só quero que todos saibam de onde vem o pulso inicial desse movimento do corpo, da alma, do espírito, que Gal possibilitou eu e tantas pessoas de sentir. Eu sou uma das tantas filhas de Gal desse país. Na voz dela é onde eu me conecto com Deus. E eu vou ter pra sempre gratidão por ela ter expandido tanto a minha alma.

Além de receber comentários de apoio de nomes como Drik BarbosaWIU e diversos outros da música nacional, Marina também acabou abrindo espaço para um desabafo mais generalizado feito por Luísa Sonza.

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Identificando nesta situação um discurso de ódio semelhante ao que enfrenta em sua própria carreira, Sonza foi à rede social para falar sobre a “nova geração de novos grandes nomes da música brasileira”:

Estamos criando uma nova geração de novos grandes nomes da música brasileira, mas o que vocês conseguem é só diminuir e se recusam a enxergar o que já está escancarado na cara de vocês. A música brasileira tá viva, tá diversificada, tá com referência, tá foda. Vocês não admitirem isso, por enquanto, não vai impedir todos nós de fazermos história.

A cantora finalizou com outra publicação onde elenca artistas que, em sua visão, estão entre os melhores que o Brasil tem no momento:

Marina Sena é foda, Jão é foda, Pabllo Vittar é foda, Iza é foda, Ludmilla é foda, Anitta é foda, Gloria Groove é foda, eu sou foda. Isso independe da opinião de vocês.

Como era de se esperar, as falas de Luísa Sonza abriram mais debates e, em grande parte, não foram bem recebidas. Perfis de humor, por exemplo, recriaram a lista feita pela artista com nomes de outros gêneros em tom de deboche, além de apontar com ironia que “acabou a verba pro Spotify e agora o escritório tá investindo em polêmica no Twitter pra impulsionar a firma.

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Jão e “escritórios de música” também foram citados em discussões

Para além das trocas de farpas e brincadeiras que são comuns em redes sociais, toda essa mobilização gerou debates pra lá de interessantes nas redes. O produtor Daniel Ganjaman, por exemplo, questionou os seguidores sobre qual seria a explicação para todo o sucesso de Jão, que fez um show de grande destaque no The Town.

Em suas respostas ao próprio Tweet, Daniel deu mais detalhes sobre por que teve tanta curiosidade com o trabalho do cantor do interior paulista e explicou que houve um engrandecimento a partir das respostas do público:

O Jão me parece muito singular no patamar artístico que ele ocupa. Não me remete a qualquer outro artista no Brasil (o que acho um ponto super positivo) e por isso me despertou esse questionamento. […] Jamais disse que o Jão é uma merda, até porque não enxergo música sob um viés tão objetivo. A questão é entender o que faz o trabalho mobilizar tanto público e foi ótimo ter colocado isso em pauta. Entendi bem mais do que se trata.

Outro ponto importante foi levantado pelo perfil @JefinhoMenes, que inicialmente engajou de forma mais irônica e bem-humorada nas críticas. Depois da repercussão negativa entre fãs dos artistas criticados, o usuário apontou a forte presença de “escritórios de música” no funcionamento dos algoritmos de streaming e como, na sua opinião, o público tem sido obrigado a consumir tudo sem fazer críticas ou piadas para não irritar os artistas e seus fãs:

Os escritórios de música enfiam goela abaixo o que eles querem que você escute. O Spotify tenta direcionar o que você vai ouvir. E você tem que engolir tudo isso sem poder fazer uma piadinha. Inclusive, tem que engolir com a asinha de frango da marca que eles querem.

Apontando uma perspectiva semelhante, o artista solo Jonathan Tadeu, que também lança músicas com a Lupe de Lupe, ressaltou uma perspectiva meritocrática no discurso feito inicialmente por Marina Sena:

Talento e uma GRANA BOA de investimento, né. Não vai iludir o povo que tá começando, não. Isso aí é papo de Luciano [Huck].

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As críticas, os fandoms e a nova geração da música brasileira

Eventos como o The Town sempre terão esse papel de expor artistas para um público que irá desafiá-los. O alcance incomparável de festivais é uma dádiva e uma sina — e, diga-se de passagem, vem sendo muito bem aproveitado por todos os artistas aqui citados.

Presenteada com uma nova geração tão singular quanto a anterior, quem ganha com essa discussão é a música brasileira, que vê cada vez mais seus artistas ganhando a própria identidade, ainda que estejam envolvidos em homenagens como às de Marina Sena a Gal Costa e, também recentemente, de Luísa Sonza a Rita Lee.

Aceitar as críticas não significa abaixar a cabeça e ouvi-las. O sentimento de união que foi mostrado nas interações recentes é um retrato do poder que o cenário brasileiro tem, e não é de hoje; com diferentes panos de fundo, os artistas que hoje se destacam na indústria nacional enxergam trajetórias semelhantes entre si e encontram, um no outro, a resposta para a chuva de opiniões à qual são submetidos constantemente.

O trabalho dos fãs é e sempre será curtir seus ídolos, inclusive defendendo-os quando achar pertinente. Saber abrir discussões saudáveis, no entanto, também pode engrandecer não apenas aqueles que buscam entender o cenário atual da música brasileira como os próprios artistas, que poderão ser entendidos e apreciados por cada vez mais pessoas.