Quase 30 anos depois, "Zombie" do The Cranberries é detonada por "críticas rasas" aos conflitos irlandeses

A música "Zombie", dos Cranberries, é um clássico do Rock, mas a faixa pode ser um gatilho sobre os conflitos da Irlanda do Norte para quem vive no país.

"Zombie" do The Cranberries é detonada por "críticas rasas" aos conflitos na Irlanda
Reprodução/YouTube

Após ser usada como hino da torcida da Irlanda na Copa do Mundo de Rugby, que está acontecendo agora em Paris, o hit “Zombie”, do The Cranberries, virou alvo de críticas na mídia do país e da vizinha Irlanda do Norte.

Com quase 1 bilhão de plays no Spotify, 1,4 bilhão de reproduções do clipe no YouTube e eleita Melhor Canção no MTV Europe Awards de 1995, essa verdadeiro obra-prima do Rock foi adotada por diversos times locais, especialmente depois da morte de Dolores O’Riordan em 2018.

A música presente no álbum No Need To Argue (1994) é uma crítica ao Exército Republicano Irlandês, grupo paramilitar conhecido como IRA, e quase 30 anos depois de seu lançamento passou a ser questionada com mais força por supostamente trazer uma abordagem “rasa” com relação ao conflito.

“Zombie”, do The Cranberries

Dolores O’Riordan compôs a faixa após um atentado em Warrington em 1993, quando duas crianças de 3 e de 12 anos de idade morreram por causa de uma bomba plantada em uma lata de lixo no centro da cidade.

No refrão, a ex-líder dos Cranberries grita “o que se passa na sua cabeça, zumbi?”, se referindo aos soldados do IRA, e em um dos versos diz que o grupo “usa os mesmos temas desde 1916”, ano da Revolta da Páscoa, em que a Irlanda tentou a independência do Reino Unido.

Com a popularidade da música, a vocalista passou a ser convidada pela imprensa do mundo todo para falar sobre o conflito na Irlanda do Norte.

Dolores O’Riordan é acusada de ter visão “reducionista” sobre conflito irlandês

Acontece que, como a própria Dolores reconhece nos versos “não sou eu, não é a minha família”, ela é nascida em Limerick, no sul da Irlanda, região que não chegou a viver nenhum tipo de violência relacionada ao conflito.

Por isso, alguns grupos do norte dizem que a visão da cantora é reducionista. Foi o caso do Schtum, banda de Rock Alternativo formada também nos anos 90 em Derry, na Irlanda do Norte. Em entrevista ao Melody Maker, o grupo detonou a visão de Dolores:

Ela é de Limerick, que porra ela saberia do assunto? Você está falando sobre os últimos 25 anos de um problema muito maior e mais amplo que vem acontecendo há centenas de anos.

A crítica voltou à tona depois do uso na Copa do Mundo de Rugby, apontando o problema em associar a música à representação nacional da Irlanda justamente devido a essa opinião dividida, e quem falou muito bem sobre o tema foi o jornalista Paul Brannigan em um artigo publicado na Louder que você pode ler clicando aqui.

Abaixo, você pode relembrar o icônico clipe de “Zombie”, do The Cranberries.

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