Depois de 10 anos, os fãs brasileiros de Placebo tiveram a oportunidade de reencontrar a banda de Brian Molko e Stefan Olsdal em um show que aconteceu neste domingo (17) no Espaço Unimed, em São Paulo.
De 2014 pra cá, muita coisa mudou. No cenários dos shows, um dos principais sintomas do mundo moderno é o crescente uso de celulares na plateia — cada vez mais, é comum vermos um mar de aparelhos levantados durante boa parte das apresentações, gerando um debate (necessário e válido) sobre a necessidade de registrar absolutamente qualquer momento de um show.
Nestes 10 anos, o Placebo também mudou. Brian e Stefan continuam como a alma da banda, é claro, mas o grupo finalmente lançou o sucessor de Loud Like Love (2013) em 2022: o ótimo Never Let Me Go, que trouxe consigo algumas canções rapidamente integradas à seleção de melhores da banda, como “Beautiful James” e “Surrounded by Spies”.
Não fosse por este lançamento, entretanto, a noite deste domingo em São Paulo poderia ter parecido um verdadeiro túnel do tempo. Isso porque, logo antes do início de sua apresentação única no Brasil, o Placebo exibiu um comunicado no telão que “pedia gentilmente” para que os fãs não “filmassem o show inteiro através de seus celulares”.
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Placebo está subindo no palco do Espaço Unimed em São Paulo daqui a poucos minutos.
Antes do show, a banda exibe um comunicado (traduzido para o português em áudio) pedindo para que os fãs não filmem ou fotografem a apresentação nos celulares. pic.twitter.com/iWpVkjHPJh
— Tenho Mais Discos Que Amigos! 🎶 (@tmdqa) March 17, 2024
Na prática, a coisa foi um pouco diferente. O “pedido gentil”, na verdade, era mais uma obrigação: funcionários estavam posicionados na grade e usavam lanternas para reportar e sinalizar as pessoas que estivessem usando seus aparelhos para filmar (ou fotografar) o show, enquanto o próprio Brian Molko foi flagrado mostrando o dedo do meio para algumas pessoas que estavam registrando momentos do show com seus celulares.
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Placebo no Brasil: (quase) sem celulares e sem hits
Durante o show do Placebo no Espaço Unimed, funcionários estão posicionados na grade usando lanternas para reportar pessoas do público que estejam usando celulares.
A banda pediu no início do show para que não fossem feitas filmagens com os aparelhos. pic.twitter.com/mFoHrRJYbK
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Pedidos e/ou proibições à parte, o fato é que o Placebo conseguiu o que queria: em sua vasta maioria, o público, mais em respeito ao pedido da banda do que como resultado da ação de quem fiscalizava, manteve os celulares guardados durante a maior parte do show. O que talvez tenha ajudado para isso, no entanto, é o fato do grupo ter trazido um repertório que deixou os hits em segundo plano.
Quem foi ao show para ouvir clássicos como “Every You Every Me” e “Pure Morning” saiu decepcionado. Aliás, os fãs mais antigos que não se atualizaram ouvindo Never Let Me Go passaram boa parte do show sem saber muito bem o que estava acontecendo — no total, foram 10 faixas do trabalho mais recente, e o segundo mais tocado foi o antecessor Loud Like Love, com apenas 3 canções.
Como dito acima, o novo álbum tem, sim, ótimas faixas. A abertura com a dobradinha “Forever Chemicals” e “Beautiful James” foi um dos pontos altos do show, e mostrou que a ideia dos celulares guardados funcionou muito bem; era difícil ver alguém que não estivesse com os braços para o alto e curtindo a (ótima, diga-se de passagem) performance do grupo.
Lá pela metade do show, no entanto, o excesso de canções de Never Let Me Go pareceu entediar parte do público. Também não era incomum ver fãs na internet comentando que deixaram de ir à apresentação justamente após olhar o setlist e perceber que suas músicas preferidas não seriam tocadas, mas o que não dá para dizer é que o Placebo perdeu o público.
Quando isso começou a acontecer, a banda engatou a reta final do show, que finalmente traz alguns dos sucessos do passado. Ainda que tenham faltado muitas no repertório, clássicos como “Song to Say Goodbye” e “The Bitter End” marcaram presença para delírio do público — que finalmente pareceu perder a batalha contra os celulares, levantados em grande número nestes momentos.
Ainda assim, o “experimento” do Placebo foi válido e ajudou a construir uma ambientação que funcionou quase como um túnel do tempo. Há muito espaço para discutir a abordagem da banda com relação a isso, especialmente pelo fato de transformar um pedido em uma (quase) proibição, mas é indiscutível que a atmosfera criada foi bastante diferente do que estamos acostumados a ver hoje em dia.
Logo abaixo, você pode ver fotos do show, incluindo da plateia sem celulares, e também o setlist completo tocado pelo Placebo em São Paulo.
Placebo em São Paulo – setlist e fotos
PLACEBO em São Paulo e os registros de uma plateia de show sem celulares em pleno 2024!
(📸: @stephaniehahne para o @tmdqa) pic.twitter.com/IP1seVgB5q
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Setlist:
1. Forever Chemicals
2. Beautiful James
3. Scene of the Crime
4. Hugz
5. Happy Birthday in the Sky
6. Bionic
7. Twin Demons
8. Surrounded by Spies
9. Soulmates
10. Sad White Reggae
11. Try Better Next Time
12. Too Many Friends
13. Went Missing
14. Exit Wounds
15. For What It’s Worth
16. Slave to the Wage
17. Song to Say Goodbye
18. The Bitter End
19. Infra-Red
Bis:
20. Taste in Men
21. Fix Yourself
22. Running Up That Hill (A Deal with God) (cover de Kate Bush)