Se existe um músico brasileiro que nunca se omitiu com relação à política do país, este é Dinho Ouro Preto. Agora, o vocalista do Capital Inicial deu a sua opinião sobre o “estado de ânimos” atual dos eleitores, no segundo ano do terceiro mandato de Lula.
Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, o ícone do Rock nacional criticou a “histeria das redes sociais”, e disse que não é correto caracterizar o governo do PT como de “extrema esquerda”.
Da mesma forma, quem está do outro lado do espectro político não é necessariamente “bolsonarista”, como se convencionou chamar os internautas mais ligados à extrema direita.
Dinho lembrou dados de uma pesquisa de opinião recente para defender que a maioria da população do Brasil tem “maturidade política” para não ceder aos extremismos:
Eu acredito que as redes sociais tendem primeiro à histeria e depois a um certo maniqueísmo. É difícil você buscar equilíbrio, sabe? E talvez você pode argumentar que isso é fruto da polarização que caracteriza a política do mundo hoje em dia. Porém, quando você lê os números que o Datafolha divulga, você vê que tem um terço dos brasileiros se identificando como petistas e um quarto dos brasileiros que se identificam como bolsonaristas.
Acho que não dá para caracterizar o PT como partido de extrema esquerda – existem várias tendências dentro do PT, com certeza há tendências mais extremistas, mas não se compara ao PCO, por exemplo, sabe? Eu vejo a grande maioria como um centro esquerda. No entanto, somando esses dois grupos, você tem 45% dos brasileiros que não são nem uma coisa nem outra. Eu acredito que isso caracteriza o Brasil. Uma disposição ao diálogo, à procura de consensos, à procura de um meio-termo. Talvez isso seja uma amostra de maturidade política do Brasil.
Capital Inicial e o Rock politizado
Nos anos 1980, vale lembrar, o Capital Inicial e a Turma da Colina – que reúne bandas importantes do Rock de Brasília – foram fundamentais durante a redemocratização no Brasil após duas décadas de regime militar, com hits politizados como “Música Urbana” e “Veraneio Vascaína”.
Em 2016, quando Dilma Rousseff sofreu o impeachment que interrompeu 14 anos de PT no governo, Dinho Ouro Preto fez elogios ao ex-juiz Sérgio Moro. Mas o cantor voltou atrás em 2021, quando ficou comprovada a parcialidade de alguns dos processos da Lava Jato – e é justamente essa possibilidade de diálogo e mudança de opinião que ele disse defender em nossa conversa.
Durante o governo Bolsonaro, vale lembrar, o líder do Capital sempre esteve na oposição e chegou a dizer que o ex-presidente queria “acabar com a democracia”, mas ele se diz decepcionado com o “culto à personalidade” que atinge também o outro lado do espectro:
Mesmo eu tendo colocado o meu voto [no Lula], não quer dizer que eu concordo [com tudo]. […] Eu sou contra o que eu vejo no PT, e vejo também no Bolsonaro, que é o culto da personalidade. Me incomoda. Isso me incomoda muito. Você agir como se fosse um tipo de futebol, deixar o seu discernimento na porta – ou você apoia tudo ou não apoia nada. Me parece pueril, me parece um maniqueísmo, como eu me referi antes. É algo que não soma, porque deixa o seu julgamento de fora.
Mas, também no papo com o TMDQA!, Dinho deixou claro que há uma distinção entre Lula e Bolsonaro, já que o segundo pode ter tido participação ativa na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023:
Onde eu quero chegar é o seguinte: eu me considero uma pessoa de centro-esquerda. Se eu fosse europeu, seria social-democrata. É importante você não deslegitimizar o teu antagonista, quem discorda de você, sabe? A menos que o cara tente dar um golpe, aí a conversa é outra.
Dinho Ouro Preto fala ao TMDQA! sobre Rock e política
Você pode conferir a entrevista completa do TMDQA! com o vocalista do Capital Inicial, em que ele também falou sobre as origens do Rock de Brasília e muitos outros temas, neste link!