Já faz algum tempo que as orquestras brasileiras ganharam nova notoriedade e fôlego. Unindo jovens instrumentistas virtuosos, maestros com uma abordagem mais plural e grandes doses de ousadia, essas formações sinfônicas vêm lotando estádios e salas de concerto. Entre Bach e Beethoven, eles apresentam de Michael Jackson a Jackson do Pandeiro; de Queen a Legião Urbana.
É claro que o encontro dos mundos da música clássica e do pop já acontece há tempos. Cantoras que mesclam bem esses universos estiveram no mainstream ao longo das últimas décadas – falamos sobre isso com Sarah Brightman, como você pode relembrar aqui. Orquestras estão em álbuns populares, em trilhas sonoras de filmes blockbuster.
Agora, mais do que nunca, elas parecem estar abraçando essa conexão com a música popular, saindo dos teatros para os festivais, fazendo feats com cantores famosos e mergulhando com tudo no lúdico da música infantil. E uma das pioneiras nesse movimento, no Brasil, é a Orquestra Petrobras Sinfônica.
Oito anos atrás, quando começou a lançar EPs temáticos – O Clássico É Pop e O Clássico É Rock (2016), seguidos pelas versões dedicadas ao Samba (2017) e ao Reggae (20018) -, o ensemble logo caiu no gosto popular.
Suas apresentações iam de cervejarias a palcos da Lapa carioca, como a Fundição Progresso, onde um público cantava emocionado junto com a orquestra o repertório do álbum Ventura, do Los Hermanos – no mesmo espaço onde Camelo, Amarante, Barba e Medina gravaram um de seus icônicos DVDs.
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https://www.youtube.com/watch?v=texNr6GS0T4
Desde então, outras orquestras vêm seguindo um caminho similar, porém próprio. O panorama da música clássica continua mudando continuamente, ao contrário do que os mais tradicionalistas possam desejar. Prova disso é que a Petrobras Sinfônica está em mais uma de suas múltiplas turnês, dessa vez com datas por capitais do nordeste.
Os concertos, sob a regência do maestro Felipe Prazeres, mostram versões sinfônicas dos clássicos da Legião Urbana e do infantil Saltimbancos (Fortaleza e Natal, 02 e 03 de maio respectivamente). Já Recife também recebe o showcerto Legião Sinfônico e um espetáculo especial com o cantor e compositor Lenine (07 e 08/05).
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https://www.youtube.com/watch?v=An7Y321fG7g
Prazeres é, também, um cara que trilha esses dois caminhos com desenvoltura. Ele vai do Mundo Bita com a Petrobras Sinfônica à batuta titular do Teatro Municipal do Rio e à direção artística da orquestra de câmara Johann Sebastian Rio.
O TMDQA! conversou com o maestro sobre este novo momento da orquestra e da junção desses mundos. Confira abaixo!
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https://www.youtube.com/watch?v=bh5rzV10EMY
TMDQA! Entrevista: Maestro Felipe Prazeres (Orquestra Petrobras Sinfônica)
TMDQA!: A Orquestra Petrobras Sinfônica vem fazendo um resgate do cancioneiro popular brasileiro há quase uma década. Como você avalia o início desse projeto, em 2016, e o ponto que se encontra agora em 2024?
Felipe Prazeres: De fato, começamos a fazer esse resgate do cancioneiro popular em 2016 com o “Projeto Álbuns”. O primeiro foi o disco Ventura, do Los Hermanos e foi um sucesso arrebatador. O público se identificou com essa versão sinfônica, principalmente os fãs do Los Hermanos, cantando muito nas apresentações. Depois a gente fez várias bandas internacionais, como o Queen, em que o público canta junto também.
Hoje podemos dizer que a Orquestra Petrobras Sinfônica tem intimidade com repertório pop, que vai até o rock pesado mesmo, como Metallica, Guns N’ Roses, Pink Floyd, e vários outros clássicos do rock. Ou seja, a orquestra ganha essa bossa de tocar outros ritmos que não são tão comuns para uma orquestra sinfônica, que toca música de concerto, que é uma música que flutua, inclusive, no tempo. Então, podemos dizer que, nesses quase dez anos, essa experiência tem sido um grande aprendizado para a Petrobras Sinfônica.
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https://www.youtube.com/watch?v=TUZhqgmIB04
TMDQA!: Parte da iniciativa é fazer lançamentos nas plataformas de streaming, um mundo ainda complicado até mesmo para artistas pop. Como tem sido a experiência da Orquestra Petrobras Sinfônica nas plataformas? Tem sido possível furar bolhas com essa presença no digital?
Felipe Prazeres: Essas bolhas na presença digital são difíceis para a música popular e também para a orquestra, dentro das suas proporções. Uma orquestra não sobrevive disso. A música clássica não sobrevive disso. A gente sobrevive das nossas performances ao vivo, que é a grande experiência para o ouvinte e para o artista que está se apresentando. Mas é claro que é importante a gente ter a nossa representatividade nas plataformas e sempre pensarmos os lançamentos como oportunidade para chegar a ainda mais pessoas, aproveitando a grande possibilidade de disseminação de música pela internet.
TMDQA!: Os concertos sempre são associados à ideia de democratização do acesso à música clássica, o que é muito importante. Muita gente pensa que os fãs de rock ou de MPB ou de samba não consomem, também, o clássico e chegam totalmente novatos a este ambiente com orquestra e maestro. O que mais te surpreende nesses encontros cara a cara com o público?
Felipe Prazeres: A nossa proposta dos concertos, que chamamos de “showcertos” está associada à democratização, à ideia de desmistificar a própria orquestra sinfônica que foi colocada no lugar de ser somente uma representante de um acervo, de algo que já foi escrito há séculos atrás. Ela é um organismo pulsante e que continua a fazer, e, o principal, pode pertencer a qualquer estilo de música. Não precisa estar necessariamente presa ao repertório de concerto, apesar de ser esse o DNA da orquestra. A orquestra surgiu da música de concerto, de todos os compositores e compositoras que existiram há muitos anos e até hoje produzem.
Porém, por que não entender a orquestra como um organismo musical que está aberto a todos os estilos musicais? O que mais surpreende nos encontros com o público, é que eles se identificam quando a gente começa a tocar, independente de ter um vocalista ou uma vocalista.
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https://www.youtube.com/watch?v=a2pqIp3izN4
TMDQA!: Quais repertórios a Orquestra Petrobras Sinfônica não fez ainda e que estão no seu radar para os próximos anos? Pode adiantar, talvez, a listinha de desejos de vocês?
Felipe Prazeres: Tem muita coisa que a gente quer fazer, inclusive porque pensando em brasilidade e no nosso país como uma grande fonte de repertório, com estilos completamente diversos, cada um na sua região, mas formando essa diversidade linda que é o Brasil. Então, temos uma ideia de passear pelo Brasil e abraçar todas essas manifestações musicais maravilhosas que a gente possui.
TMDQA!: Quando a Orquestra Petrobras Sinfônica e outras orquestras começaram este movimento de popularizar o clássico, imaginou-se que o mundo erudito iria torcer o nariz. Mas na verdade, é possível ver um movimento crescente de unir as orquestras cada vez mais em festivais de pop e rock, de levar aos estádios, de fazer feat com cantores, etc. A seu ver, esse é um movimento que não tem volta?
Felipe Prazeres: Eu acho que sempre terá gente que vai torcer o nariz, que vê a orquestra de uma outra forma. O principal é que a Petrobras Sinfônica, e até outras orquestras, não deixam de tocar o repertório sinfônico, ou não tocam menos o repertório sinfônico. Fazemos o repertório tradicional e sempre o faremos. O que queremos é que o público que está assistindo concertos de pop, rock e outros estilos fique estimulado para saber como uma orquestra funciona.
Então, eu acho que esse é um movimento que não tem volta. Uma orquestra cai muito bem para qualquer música. Todos os grandes artistas que a gente toca, como Lenine, Gilberto Gil, Gal Costa e outros que já passaram pela Petrobras Sinfônica, se sentem muito bem, ficam honrados de ter uma orquestra sinfônica à disposição. E estilos como o rock e o pop provaram que funcionam numa orquestra, pois temos instrumentos muito importantes do rock, como a bateria e o baixo elétrico. Isso faz uma grande diferença e as pessoas se identificam.
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https://www.youtube.com/watch?v=_lRFff_f1yY
TMDQA!: Com iniciativas como Os Saltimbancos Sinfônico e também o Mundo Bita Sinfônico, qual a importância de iniciar, desde cedo, a introdução à sonoridade clássica?
Felipe Prazeres: O ensino da música para a criança, independente de ser música clássica ou não, provou-se que é algo que faz uma diferença enorme no desenvolvimento. É claro, se a gente puder diversificar o repertório e também apresentar a música clássica, nós despertamos nas crianças desde cedo o interesse por esse universo diverso de timbres e sons.
Quando a gente apresenta uma orquestra sinfônica para a criança, por exemplo, tocando o Mundo Bita, em uma versão sinfônica, em uma formação com o Chaps, vocalista do Mundo Bita, tocando com uma banda, talvez com um violão ou com uma bateria, a gente une um repertório já conhecido pela criança e torna esse som único. Não existe nada igual a uma orquestra sinfônica em termos de quantidade e complexidade, porque se unem várias histórias diferentes de famílias de instrumentos que se desenvolveram durante todos esses anos e acarretaram nesse organismo maravilhoso que é a orquestra sinfônica.
E as crianças escutam isso, independente de ser complexo ou não pra gente, elas escutam isso de uma forma simples, porque a gente toca esse repertório que elas gostam de ouvir. E daqui a pouquinho vai tocando os clássicos também, que são portais para a entrada da música clássica e seus grandes compositores. A gente sempre dá uma atenção especial a esse novo público que está por vir, essa é uma das vertentes da Petrobras Sinfônica.