Junior faz de Solo Vol. 2 um novo capítulo em sua carreira e um convite a abraçar a liberdade e suas múltiplas versões.
O trabalho é resultado de um processo criativo iniciado em 2020, com 54 músicas desenvolvidas em sua casa – onde fica o estúdio Santo Som, em Campinas. Precedido pelo single “Seus Planos”, o álbum chega sete meses após o primeiro volume, aprofundando temas existenciais e experiências pessoais. O projeto evidencia a capacidade de Junior de se mostrar vulnerável e intenso, versátil e eclético.
Solo Vol. 2 apresenta uma diversidade de estilos, começando com “Cena de Filme”, uma parceria com Thalles Horovitz que mistura soul rock com influências de Lenny Kravitz.
“Dá Pra Ser Leve” segue outra linha, destacando os vocais de Junior e backing de ninguém menos que Lio e Lay, do trio Tuyo, abordando temas de superação durante a pandemia. “Soul e Suor” reflete a visão de Junior sobre a música, com uma letra que celebra a autenticidade e a inspiração visceral. O álbum também inclui um “Interlúdio” synthpop, o rock funkeado “Tabu”, e a enérgica “Fome” com participação de Gloria Groove.
Solo Vol. 2 culmina com faixas como “Salve-se Quem Puder”, “Fora da Caixa”, e a introspectiva “Será que vai ser sempre assim”, que fecham o álbum com reflexões pessoais.
Junior se apoia em uma nova geração de colaboradores talentosos, como Bibi, Barbara Dias e Felipe Vassão, que trouxeram outras cores, tons e versos para o álbum. O trabalho consolida Junior como um artista amadurecido, que encontrou sua voz própria e continua a influenciar e expandir os horizontes do pop brasileiro, sem aceitar ser colocado em apenas uma prateleira.
O cantor, compositor e multi instrumentista conversou com o TMDQA! sobre essa nova fase, amadurecimento e transformar música em cura. Confira abaixo!
TMDQA! Entrevista Junior
TMDQA!: Oi, Junior! Cara, primeiro queria entender: você gravou esses dois álbuns na sequência?
Junior: É, foi gravado junto, na verdade tudo é parte de um projeto só, e só foi separado na hora de lançar o que vai lançar antes ou depois, e aí eu foquei em mixar e finalizar o volume 1 primeiro, por questão óbvia. E aí, uma vez lançado, eu consegui finalizar o volume 2, mas o processo de criar, de composição, de gravação, de estúdio, voz, tudo, foi tudo numa tacada só. É um disco só. E no final do mês a gente tem a intenção de lançar os dois juntos. Eles vão virar um álbum só mesmo.
TMDQA!: Ah, perfeito. É porque inevitavelmente a gente acaba comparando com o volume anterior e aí eu achei esse volume 2 até um pouco mais pesado na sonoridade, sabe? E aí eu queria saber se quando você compôs essa tracklist na sua cabeça, se houve uma progressão nesse sentido, ou foi só assim que as músicas se encaixaram, não houve essa intenção?
Junior: Não, houve, na hora de separar o volume 1 e o 2. Aí fui criando na minha cabeça uma lógica pra isso, pra entender qual seria… Eu gosto muito quando o disco conta uma história por trás, do que realmente está sendo falado, mas tem ali um fio condutor, uma história macro. Então, pensando nisso, eu fui já criando a ordem, entendendo, e aí acabou que, naturalmente, o volume 1 acabou ficando um pouco mais com a sonoridade de pop, sabe? Pop real, literalmente, e aí no volume 2, o pop com as influências de outros gêneros mais presentes, outros sotaques um pouco mais realçados. Vai mais pro rock, e quando vai pro soul, vai mais de cabeça. Quer dizer, na verdade, o soul acho que é uma influência no álbum todo. Eu acho que tá presente o balanço da soul music, mas em algumas fica mais realmente soul, mais…
TMDQA!: Mais evidente, né?
Junior: É, mais evidente a parada ou rock mesmo, funk rock… Mas essa separação só acabou acontecendo na hora de eu entender qual seria o volume 1, volume 2 e aí pensar na ordem, pensar na historinha – queira ou não, existe uma ordem cronológica das coisas que eu fui vivendo, que foi me inspirando pra cada música. Também tá presente nesse disco. E uma coisa que tá lá no release que eu falei, porque foi uma parada que eu me liguei depois que foi bem não intencional, mas a primeira música do volume 1, e a última música do volume 2 falam da mesma fase, do mesmo período, então no fundo a história vai mas ela termina no mesmo lugar, ela termina no começo, sabe? E enfim, foi assim que acabou acontecendo essa história toda.
TMDQA!: Sim, tem tudo, tem storytelling nesse projeto! Agora, é um disco solo, obviamente, está até no título, mas ele foi feito a muitas mãos, né? E eu achei interessante como você trouxe novos compositores, fez lá uns camps para escrever coisa nova. E eu queria entender se é um movimento de querer renovar o seu próprio olhar, talvez de uma intenção de tirar de uma possível zona de conforto?
Junior: Super, eu acho muito rica a experiência de compor em conjunto, de trabalhar com as pessoas. Eu não sou uma pessoa que fica sentado em cima do ego na hora de criar. Então, eu gosto muito de trabalhar. Eu aprendi desde muito cedo trabalhar em conjunto. E eu acho que funciona bem. E eu gosto do pingue-pongue, da coisa do… bate-bola, de jogar uma ideia e voltar outra coisa. E aquilo já evolui para uma terceira e quando ver, você tá no resultado, nada a ver com a ideia de ninguém, mas é aquilo que tinha que ser. Enfim, eu acho isso muito, muito massa. Também sou uma pessoa aberta a conhecer outras pessoas, não sou muito de clubinho fechado, então… E também, na verdade, eu estava muito tempo sem compor pra um trabalho dessa forma, eu estava fazendo muitos anos de música eletrônica, que era um negócio que eu fazia com o meu parceiro ali do outro projeto e tudo mais. Raramente a gente compunha com outras pessoas de fora.
Então eu chamei alguns parceiros, pesquisei, fui atrás, o Thalles, por exemplo, foi o primeiro que eu chamei – Thalles Horovitz, que fez a “Cena de Filme”, “Fora da caixa”, fez várias músicas, acho que é um dos que está mais presente assim nas composições. A gente teve uma identificação grande na criação, estilo e tudo mais. E aí, em determinado momento, quando eu resolvi que eu ia fazer o camp, fui atrás de outros nomes. E aí me apresentaram a Bibi, que é um super talento, e ela que trouxe mais uma galera com quem ela está acostumada a trabalhar, então foi muito um movimento que foi acontecendo naturalmente e de forma bem orgânica e eu tive a sorte de conseguir reunir pessoas com muita afinidade e que deu muito certo. Porque às vezes não dá, né? [risos]
TMDQA!: [risos] Nossa, é!
Junior: É, uma pessoa que não cuida da mesma forma, que fica ali, tipo, botando um gosto ruim no negócio pode acabar com tudo. E não rolou isso em nenhum momento, então foi massa. Tem uma parada energética que foi muito interessante, sabe? No período de criação das composições, isso ficou muito evidente. Da galera comentar, “Caralho, mano, o que está acontecendo? Que vibe é essa?” Rolou um momento muito especial, isso está presente no disco, isso reflete, sem dúvida.
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TMDQA!: Legal, dá pra sentir. Agora, uma coisa que… acho que está até no release, que você fala que tá com tesão pra cantar de novo, pra fazer a sua parada. Eu queria entender como que funciona pra você: você precisa estar sempre perto, sempre no estúdio, sempre mantendo o fogo aceso… ou você precisa dar um tempo e fazer outras coisas para aí reencontrar essa paixão?
Junior: Olha, eu já vivi de tudo, mas eu fico melhor quando eu tô produzindo, eu não gosto desse distanciamento não. Eu acho que quanto mais eu faço, mais eu fico aquecido, vai ficando com a mão na massa, mais flui, a tendência é você ganhar uma produtividade maior, sabe? Agora, eu funciono muito a partir de projetos, não funciono muito de fazer por fazer? Eu tenho que ter um objetivo com aquela música, eu tenho que ter um porquê de estar fazendo aquilo. Mas eu me sinto muito mais vivo, pulsante quando eu tô envolvido em algo assim, então eu nesse momento por exemplo, eu de novo tô sem meu estúdio. Porque eu voltei para São Paulo, e durante a pandemia fui para Campinas, e eu voltei agora, e aí não deu tempo, eu ainda não consegui. É uma função, né? Eu vou ter que construir e tal. Então, eu estou de novo meio distante, só que isso já começa a me dar uma coceira, o negócio de… A minha intenção é viver da estrada, do palco, para o estúdio. Estou em casa, estou no estúdio, estou produzindo música. Até porque hoje em dia eu sei da demanda do mercado, das plataformas digitais. Você não pode ficar muito tempo sem lançar coisa. Diferente do época que eu comecei que era a vinil, em que você lançava uma vez por ano e é isso. E olhe lá, talvez dois anos. Então, eu gosto da ideia de viver no estúdio produzindo bastante, mas ainda não cheguei nesse lugar. Pretendo. Na época que eu estava no projeto, o Manimal, que eu estava fazendo coisa de música eletrônica, que eu tinha um estúdio em casa, era diário assim, era todo dia. Eu resolvia toda a vida pessoal de manhã e depois o almoço “Valeu galera” [dá tchau] e estúdio, sabe?
TMDQA!: Tá certo. Eu estava perguntando isso na verdade, porque eu estava notando que a sua trajetória solo tem esses momentos bem demarcados, em que você aparentemente se afasta, não necessariamente está lançando coisa o tempo todo, mas aí você volta à esfera a pública apresentando algum projeto e tal. E eu queria entender, estar produzindo é diferente estar lançando, né? E aí, como que você decide que é hora de voltar a colocar a cara no mundo? O que te dá essa fagulha, “Ok, isso daqui tá ficando maneiro, acho que vai virar uma coisa palpável”?
Junior: Na verdade, eu comecei a trabalhar nesse disco até por uma necessidade, porque eu estava bem mal, meio mal de cabeça, voltando a umas ameaças de ter pânico, umas coisas assim, e eu tipo, “cara, não dá, não dá”. E aí, comecei a mexer numa primeira música que me instigou e aí minha analista falou, “vai pro estúdio, vai pro estúdio, vai pro estúdio” e eu assim, “ah, beleza”…
TMDQA!: Em geral elas têm razão.
Junior: É, e eu já estava num ponto que… sabe quando você começa a ficar já sem conseguir nem entender mais o que está acontecendo? Estresse, sei lá. Então, eu fui para o estúdio para me salvar, era minha busca de cura mesmo. Enquanto eu estava no estúdio fazendo música, eu estava bem. Então… aconteceu muito a partir disso. Antes eu estava com a ideia de fazer o projeto, mas aí veio a pandemia e eu caí junto. Tipo, o meu emocional foi para o espaço. Então foi um resgate que, graças a Deus, eu estava com esse projeto, com essa ideia. Porque saber que show não ia voltar a acontecer tão cedo, não existia muito uma luz no fim do túnel, então era coisa de arrumar uma maneira de abaixar a cabeça e trabalhar e não ficar deixando a cabeça pensar demais, só pensar em criar, não em pirar demais em tudo em torno.
TMDQA!: Entendi. Que bom que você saiu dessa fase – assim, eu imagino que esteja melhor, já que está aí colocando o projeto no mundo. Agora o lance de existir no mundo, de ser uma pessoa pública, é que muita gente cria expectativas sobre você, né? E você provavelmente também criou – em algum momento imaginou como você seria aos 40 anos, você olhando seus pais, pensando quando você estivesse com a idade deles. Aquela versão do “mini-junior”, criança ou adolescente e tal, reconheceria você aos 40 hoje? Você acha que ele ficaria orgulhoso ou até meio decepcionado assim?
Junior: Não, acho que ficaria orgulhoso sim. E é engraçado porque quando a gente é novo e a gente olha “pô, 40 anos”, a gente se imagina muito mais velho do que de fato é.
TMDQA!: Cara, eu me lembro que eu percebi a minha mãe como “velha” quando ela tinha 36 anos, e hoje eu tenho 36. Tipo, quem te viu, quem te vê!
Junior: [risos] Exato, imagina! Quando o moleque pensava, eu com 40, eu achava que ia estar completamente diferente, uma cara de coroa, assim. E não que não esteja um pouco, mas eu me sinto ainda muito pulsante, muito cheio de vida, muito cheio de vontades, de curiosidade, de descobertas ainda. Então eu acho que eu errei na minha previsão, se fosse parar pra pensar em como eu achava que seria aos quarenta, com certeza era diferente do que o que eu estou fazendo. Ia ficar feliz de me ver assim, entusiasmado, lançando as coisas e a fim, fazendo e correndo atrás e tudo mais, da minha carreira, de me realizar, sabe?
TMDQA!: Bom, Junior, sei que tenho que te liberar, mas espero que você curta esse lançamento aí, que tá lindão. Parabéns pelo disco.
Junior: Ah, obrigado! Só preciso falar: eu curto o Tenho Mais Discos Que Amigos!, sigo, acho muito massa!
TMDQA!: Ah que demais! Estamos em sintonia então.
Junior: Isso, em sintonia!
TMDQA!: Tá certo então! Obrigada!
Junior: Obrigado a você.