Não tem jeito: a Netflix é uma das maiores vitrines para um conteúdo audiovisual no mundo. Prova disso é que séries e filmes ganham um novo gás e até se tornam onipresentes na cultura pop depois de serem disponibilizadas no serviço de streaming.
Não é para menos: no final do primeiro trimestre do ano, a empresa revelou ter chegado à marca de 269,6 milhões de usuários no mundo todo. A facilidade de acessar um conteúdo em qualquer lugar e quando desejar é um dos maiores fatores para que séries, antes presas às grades de programação de canais tradicionais, agora se tornem verdadeiros fenômenos.
Entendendo o efeito Netflix
A Netflix foi de um serviço de locação de DVDs para uma plataforma pioneira em streaming. A ideia era facilitar o acesso, disponibilizando na ponta dos dedos aqueles filmes e séries que todo mundo quer ver.
Com o tempo, a Netflix entrou também no jogo do conteúdo original, produzindo suas próprias séries com grau elevado de sucesso. Todo mundo já ouviu falar de House of Cards, Orange is the New Black e Sense8, apenas para citar as da primeira geração de lançamentos. Hoje, Stranger Things é um verdadeiro fenômeno, mostrando que esse potencial só aumenta.
Nesse meio tempo, a Netflix fez séries ganharem um novo fôlego. Breaking Bad, que já era exibida no FX durante três anos, entrou no serviço logo antes de sua quarta temporada estrear. Resultado: muito mais gente ao redor do globo se rendeu à trama irresistível de Walter White.
Isso também aconteceu com Gilmore Girls, uma série que já havia sido encerrada. Porém, ao estrear na Netflix, virou mania – de novas pessoas descobrindo seus mais de 100 episódios até antigos fãs maratonando para matar a saudade. Resultado: a Netflix bancou do próprio bolso uma mini-temporada de quatro novos episódios, feitos com o elenco e os criadores originais.
Porém, com a dominância da Netflix no mercado, muitos estúdios notaram que estavam perdendo a oportunidade de lucrar com suas propriedades intelectuais. Não apenas lançaram seus próprios serviços de streaming, como retiraram todo o seu conteúdo da vitrine com logo vermelha.
Foi assim que as séries mais aclamadas da HBO sumiram do app, bem como todos os filmes da Disney (e seu catálogo enorme de Marvel e Star Wars, por exemplo). Mas logo muitas marcas fortes notaram que é difícil fazer a conta fechar na era do streaming, e com isso voltaram a licenciar seus conteúdos para a Netflix.
É o caso da HBO, que aos poucos vem liberando um ou outro título para fora de seus domínios no Max. Com isso, produções muito populares no início dos anos 2000 como Sex and the City e Band of Brothers voltaram a cair nas graças do público, mais de 20 anos depois. E isso impacta diretamente produções atuais – como And Just Like That…, continuação de Sex and the City; e Mestres do Ar, minissérie lançada este ano na AppleTV+ feita pelos mesmos criadores de Band of Brothers.
Estes são apenas alguns exemplos. Conheça abaixo várias outras séries que tiveram seus destinos alterados por uma estreia na Netflix.
5 séries que bombaram na Netflix
You
You estreou originalmente no Lifetime em 2018. A série segue Joe Goldberg, um jovem obsessivo que transforma paixões em algo muito mais sinistro. Ele persegue seus interesses amorosos e está disposto a eliminar qualquer coisa que atrapalhe seu caminho — até mesmo outras pessoas.
Após não chamar muita atenção na primeira temporada, o Lifetime decidiu não prosseguir com uma segunda temporada, previamente aprovada do programa, devido aos altos custos de produção.
Aí vem a virada na trama: dois meses após a estreia original da série, a Netflix adquiriu seus direitos. Uma vez que a primeira temporada estava na plataforma, ela explodiu e a série pode começar a produção de sua segunda temporada.
Desde então, You tem sido um sucesso para o serviço de streaming, quebrando recordes. Sua quinta e última temporada está prevista para estrear este ano.
Suits
O drama jurídico Suits foi originalmente ao ar na USA Network em 2011. Ele segue o bem-sucedido advogado corporativo de Manhattan Harvey Specter (Gabriel Macht) e sua equipe — Louis Litt (Rick Hoffman), Donna Paulsen (Sarah Rafferty), Rachel Zane (Meghan Markle) e Jessica Pearson (Gina Torres) — enquanto recebem o novo colega Michael Ross (Patrick J. Adams), que tem um dom especial.
Além do drama, segredos e jargão jurídico, esta série oferece mais do que apenas suas intrigantes tramas. Não se pode ignorar que a agora Duquesa de Sussex, Meghan Markle, tem um papel principal em Suits. Ela se desligou da série no fim de 2018, quando deu uma pausa na carreira de atriz para se casar com o Príncipe Harry.
A série de nove temporadas esteve disponível para streaming no Peacock e no Prime Video por muitos anos, mas não alcançou um grande número de espectadores. No entanto, em junho de 2023, a Netflix adquiriu os direitos de exibição da série, o que aumentou sua audiência quase da noite para o dia. Agora, está quebrando recordes de streaming, sendo assistida por mais de três bilhões de minutos durante sete semanas consecutivas em 2023.
Black Mirror
Black Mirror estreou no Channel 4 do Reino Unido em 2011, com suas duas primeiras temporadas e um especial de Natal exibidos na emissora britânica. Embora a série tenha conquistado um público fiel e recebido elogios por sua abordagem inovadora e provocativa das relações entre sociedade e tecnologia, ela ainda tinha um alcance relativamente limitado fora do Reino Unido.
Em 2015, a Netflix adquiriu os direitos globais da série e encomendou novas temporadas, transformando Black Mirror em uma produção original da plataforma. A mudança para a Netflix permitiu que a série alcançasse um público muito maior e mais diversificado, ampliando sua base de fãs ao redor do mundo.
Com a maior exposição proporcionada pela Netflix, Black Mirror não apenas aumentou seu público, mas também recebeu ainda mais reconhecimento da crítica. As temporadas produzidas pela Netflix mantiveram o tom sombrio e reflexivo da série, explorando as consequências inesperadas das tecnologias emergentes na sociedade moderna. Episódios como San Junipero e USS Callister ganharam prêmios importantes, incluindo o Emmy, solidificando a reputação da série como um dos dramas mais importantes da década.
A plataforma de streaming também permitiu uma maior flexibilidade criativa, resultando em episódios interativos como Bandersnatch, que ofereceu uma experiência única ao espectador. Com a Netflix, Black Mirror se transformou em um fenômeno cultural.
Peaky Blinders
Peaky Blinders estreou na BBC Two em 2013, atraindo um público considerável no Reino Unido com sua trama envolvente sobre uma gangue de Birmingham no período pós-Primeira Guerra Mundial. No entanto, foi a aquisição pela Netflix que impulsionou a série para a fama internacional.
A plataforma de streaming começou a disponibilizar Peaky Blinders para seu público global a partir de 2014, permitindo que espectadores de todo o mundo acessassem as temporadas completas da série. Esse alcance ampliado ajudou a série a conquistar uma base de fãs fora do Reino Unido, especialmente nos Estados Unidos, onde se tornou um sucesso cult.
A presença na Netflix não só aumentou a visibilidade de Peaky Blinders, mas também facilitou a criação de uma comunidade online de fãs e críticos. As maratonas de episódios se tornaram comuns, e as discussões sobre a série nas redes sociais ajudaram a mantê-la relevante entre as temporadas. Esse engajamento constante contribuiu para o crescimento contínuo da popularidade da série, que recebeu diversos prêmios e indicações ao longo dos anos.
The Office
Nem só de dramas vive o fã de séries! E The Office sempre foi muito popular, mas a Netflix a transformou em um fenômeno. Em 2019, a plataforma anunciou que The Office deixaria seu catálogo em 2021 para integrar o serviço de streaming planejado pela NBCUniversal, o que causou pânico entre os fãs – e levou a maratonas sem precedentes.
Adaptada de uma série da BBC de mesmo nome, The Office acumulou 42 indicações ao Emmy ao longo de suas nove temporadas, ganhando um total de cinco prêmios. Seu elenco ganhou o prêmio do Screen Actors Guild duas vezes consecutivas e a série recebeu um Peabody Award. Embora tenha tido um desempenho relativamente bom na NBC durante seus oito anos de exibição, alcançando em determinado momento a posição de série roteirizada de maior audiência da emissora, a verdadeira ascensão de The Office ocorreu após entrar no catálogo da Netflix.
A presença na Netflix permitiu que The Office alcançasse uma nova geração de espectadores, particularmente millennials e Gen Z, que passaram a citar a série em redes sociais como Instagram, Twitter e até em aplicativos de namoro. A série, que em 2005 corria o risco de ser cancelada, ganhou um novo público com a ajuda do iTunes e mais tarde encontrou um sucesso sem precedentes na Netflix.
De acordo com o Wall Street Journal, The Office foi o programa mais assistido na Netflix durante um período de 12 meses que terminou no verão de 2019, atraindo quase 3% do total de minutos de uso da plataforma, o que equivale a 45,8 bilhões de minutos. A Netflix deu uma “terceira vida” à série, permitindo que as pessoas assistissem aos episódios quantas vezes quisessem e em qualquer ordem, contribuindo para que The Office se tornasse um elemento constante no cotidiano de muitos espectadores. Essa popularidade levou a NBCUniversal a pagar US$100 milhões por ano, durante cinco anos, para trazer a série de volta para sua própria plataforma de streaming.
Agora, The Office ganhará uma nova sobrevida: uma série dos mesmos criadores que habita o mesmo universo da Dunder Mifflin, mas em outra cidade e em outro escritório. Alguma dúvida de que irá bombar também?