Exclusivo: Spotify faz balanço de 10 anos no Brasil em entrevista ao TMDQA!

O Spotify já está há uma década em solo brasileiro. Ao TMDQA!, Carolina Alzuguir revela detalhes da visão da empresa sueca sobre o mercado nacional.

Carolina Alzuguir - Spotify
Crédito: Adima Macena

O Spotify vem revelando, aos poucos, dados sobre o consumo dos brasileiros na sua plataforma. O Wrapped do último ano pegou embalo no relatório Loud & Clear, revelado no fim do primeiro trimestre. Agora, em maio, o Spotify comemorou outro marco importante: 10 anos de Brasil, um dos maiores mercados para música no mundo.

A festa é justa. O Spotify chegou ao país em um ecossistema ainda insipiente para o streaming. Não só obliterou a concorrência à época (quem lembra do Rdio?) como se firmou como a maior empresa do segmento. 

Para celebrar o momento, a empresa capitaneada por Daniel Ek colocou os números para jogo. Durante os últimos 10 anos, o Spotify teve aumentos significativos e crescentes; os artistas brasileiros também ganharam cada vez mais espaço na plataforma, com um aumento de mais de 240 vezes nos plays. Em 2023, as receitas geradas por artistas brasileiros no Spotify cresceram 27% em comparação com 2022.

Esses dados foram revelados aqui no TMDQA!, mas agora o nosso leitor tem a chance de ir mais a fundo. Isso porque a Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil, Carolina Alzuguir, fala com exclusividade ao nosso site sobre o mercado nacional e os aprendizados da última década.

Quem é Carolina Alzuguir, do Spotify?

O período corresponde a cerca da metade da carreira dessa experiente executiva de entretenimento. Ela atuou na criação e execução de campanhas de marketing e digitais, além de desenvolvimento de parcerias de negócios para empresas e talentos de destaque nas indústrias da música, TV e digital.

Atuando como Artists & Labels Partnerships Lead no Spotify Brasil desde 2019, Alzuguir gerencia o relacionamento da plataforma com a indústria musical brasileira, desenvolvendo estratégias e processos de parceria, além de liderar uma equipe de gerentes e coordenadores. 

Antes disso, Carolina trabalhou no Twitter como Entertainment Partnerships Manager, onde desenvolveu parcerias com artistas, gravadoras, redes de TV e criadores digitais, além de criar campanhas digitais customizadas para grandes nomes da música brasileira.

Ela também tem passagem pela Sony Music, onde foi responsável por estratégias de marketing digital, relações com artistas e desenvolvimento de parcerias com operadoras de telefonia e lojas de música online. 

Conheça abaixo um pouco mais sobre como o Spotify pensa e opera no país, em uma conversa exclusiva.

TMDQA! Entrevista: Carolina Alzuguir, Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Spotify Brasil

TMDQA!: Existe uma máxima no music business de que o Brasil é o país que mais consome a própria música. Gostaria de saber se isso se confirma nas estatísticas do Spotify.

Carolina Alzuguir: Hoje, mais de 60% do consumo no Spotify Brasil é de música local. No início, nosso consumo era muito internacional, o que não refletia o gosto do público brasileiro.  Mas à medida que a adoção da plataforma foi aumentando cada vez mais e mais rápido nas diversas camadas da sociedade e que fomos tornando o nosso ecossistema de playlists cada vez mais robusto para promover a música brasileira, istose inverteu. Além refletirmos a cultura local na nossa oferta de playlist, temos programas, como RADAR e AMPLIFIKA, que ajudam a alavancar novos talentos de diferentes gêneros musicais, como trap, funk, pagode  e forró, por exemplo. O Brasil é um dos países que mais se destacam pelo consumo de música global no mundo. 

TMDQA!: Os artistas brasileiros vem crescendo exponencialmente na plataforma, tanto localmente quanto globalmente. A que o Spotify atribui esse crescimento?

Carolina: O Brasil é um mercado de extrema importância para o Spotify, tanto em termos de volume quanto em consumo. O brasileiro é extremamente engajado e apaixonado por música.  

A plataforma funciona com base em personalização. Mas há uma exposição promovida por nós tanto em playlists quanto em programas globais de músicas, como RADAR, que identifica talentos em crescimento e oferece apoio promocional. No ano passado, 9.500 artistas brasileiros entraram em playlists editoriais. A criação de playlists foi estruturada para refletir a diversidade cultural do Brasil, com gêneros como sertanejo, pagode, gospel, trap e funk. A estratégia de playlists é um pilar fundamental. Desde o início, criamos playlists específicas para diferentes gêneros, humores e estados de espírito. Por exemplo, Esquenta Sertanejo e Pagodeira são algumas das mais populares. Temos também, por exemplo, Top Brasil, a playlist mais escutada no Brasil, que reúne os maiores hits do país e conta com mais de 8,2 milhões de curtidas, saltou da nona posição em 2017 para a terceira posição de playlist do Spotify mais escutada no mundo. Isso permite que os usuários descubram novos artistas e músicas que se alinham com seus gostos, enquanto os artistas ganham uma plataforma para alcançar novos públicos, local e globalmente.

TMDQA!: Recentemente, a divulgação de que mais de 70% das receitas geradas no Spotify Brasil foram para artistas independentes pegou muita gente de surpresa. Pode especificar para nós, do TMDQA!, o que consideram como artistas independentes? Por exemplo, entram nesta fatia artistas que recebem grandes aportes financeiros de selos expressivos fora das gravadoras major?

Carolina: Mais de 70% de todas as receitas geradas por artistas brasileiros no Spotify em 2023 foram de artistas ou gravadoras independentes. O Spotify considera como artistas independentes aqueles que não são representados por gravadoras majors, mas sim por distribuidoras ou selos.

TMDQA!: Com tanto volume, a era do streaming traz um desafio: como se destacar em meio à multidão de artistas buscando um lugar ao sol – ou na playlist?

Carolina: O Spotify oferece diversas ferramentas que ajudam o artista a se destacar na plataforma. No último ano, recursos do Spotify ganharam mais protagonismo, a exemplo dos Clips e dos Canvas.  Clips são vídeos verticais com menos de 30 segundos projetados para destacar o artista e sua música, e podem ser adicionados a uma faixa, álbum, lançamento ou perfil do artista. Canvassão vídeos curtos em loop, presente em cada uma das suas faixas como uma capa de álbum, que já existiam na plataforma há alguns anos, mas passaram a ter mais destaque na home e em toda a navegação. Além desse recurso, o Countdown Page, que está em fase de testes, está sendo disponibilizado para mais artistas e o objetivo da plataforma é ampliar o recurso. Recentemente, artistas como Djavan, Anitta, Pabllo Vittar, L7nnon, Shakira, Ed Sheeran, entre outros, usaram a ferramenta. Todas essas ferramentas tem o objetivo de ampliar as possibilidades de expressão artística e de conexão do artista com seus fãs. 

Além disso, o Spotify promove frequentemente as AULAs Spotify, que são workshops vituais e presenciais oferecidos para artistas em que nosso time compartilha boas práticas e dicas de como os artistas podem promover melhor seu conteúdo. 

Isso sem falar nos programas do Spotify através dos quais ofereceremos suporte promocional para artistas em fase inicial de carreira (RADAR) e de comunidades subrepresentadas como EQUAL (mulheres), AMPLIFIKA (cultura preta) e GLOW (LGBTQIAP+) 

TMDQA!: Pode fazer um balanço dos últimos 10 anos? Quais os principais aprendizados e desafios do tempo que o Spotify já acumula no Brasil?

Carolina: Em 2013, um ano antes da nossa entrada, a indústria no Brasil era um negócio de R$ 492 milhões. Para comparar, no ano passado, geramos R$ 2,8 bilhões. É um número muito expressivo. Dez anos atrás, o físico representava mais da metade do que era vendido em termos de música. Antes de chegarmos, 54% quase 55% era CD. Hoje, isso é apenas 0,6%. Então houve uma transição muito rápida de formato, mais rápida do que no resto do mundo. Naquela época, a música digital, que incluía ring backtones e ringtones, representava 34%. Hoje, é 87%, e desses, 86% é streaming. São comparativos que tomam distâncias muito grandes justamente porque o mercado se transformou completamente. 

O Spotify chegou ao Brasil em 2014 abrindo as portas para uma nova era de consumo de música no país, democratizando o acesso. Nos últimos 10 anos, a plataforma se tornou parte integral da vida de milhões de brasileiros, revolucionando a forma como as pessoas descobrem, escutam e compartilham música. E do ponto de vista do artista, todos os anos, o Spotify paga cada vez mais dinheiro em royalties de streaming, resultando em recordes de receita e crescimento para os detentores de direitos autorais em nome de artistas e compositores. Já pagamos mais de US$48 bilhões para a indústria da música desde a nossa criação e só no último ano, o pagamento de receita mundialmente foi de US$9 bilhões e no Brasil de R$1.2 bilhão. 

TMDQA!: Já são 10 anos no mercado brasileiro. Existe alguma particularidade que se apresenta apenas no Spotify Brasil? O que nos torna únicos dentro da empresa?

Carolina: O mais importante para o mercado brasileiro é a hiperpersonalização. Para identificar o perfil de uma pessoa no Brasil, basta abrir o aplicativo. É fácil de reconhecer, seja pelos hubs de conteúdo ou pelas paradas musicais. Nosso trabalho aqui sempre foi esse, utilizar as vantagens de um produto global, com tecnologia de ponta, para integrar todos os níveis culturais do país na plataforma. E o diferencial do público brasileiro é a preferência pelo consumo local. Como comentamos antes, hoje, mais de 60% do consumo no Spotify Brasil é de música local. O Brasil é um dos poucos países onde o consumo de música local supera o internacional.

TMDQA!: Uma das questões que se impõem na era do streaming é que é preciso escolher em quais assinaturas premium investir. O Brasil aparece entre o top 10 de assinaturas mais caras do Spotify, quando se converte para dólar – chega a quase metade do valor cobrado nos EUA (US$4,29 x US$10,99), com uma moeda cinco vezes menos valorizada. Como esses preços são definidos ao redor do globo?

Carolina: À medida que continuamos inovando e investindo para fornecer aos nossos ouvintes um valor maior do que nunca, atualizamos, ocasionalmente, os nossos preços. Levamos em consideração os fatores macroeconômicos locais e as demandas do mercado, oferecendo um serviço incomparável.