Slim Soledad é natural de Guarulhos, e começou sua jornada nas artes em meio à cultura da música e da dança.
Destaque internacional no Time Warp, Primavera Sound, Dekmantel e Boiler Room a partir da união de suas referências da arte contemporânea com imagens e sons latinos, Slim lançou recentemente o single “Transmission”, como contamos por aqui, e tem se tornado sinônimo de inovação na música eletrônica mundial.
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Com uma mistura de Techno, Funk, Electro e Hard Trance, Slim lançará em breve seu próximo EP, que celebrará a diversidade e também tocará em temas sensíveis para a comunidade LGBTQIAPN+, como preconceito, orgulho e resiliência.
Hoje radicada em Paris, na França, a artista faz questão de manter as raízes brasileiras na concepção de sua música e ativismo, evidenciado pelo seu trabalho com o Coletivo Ch3rnobyl — considerado por muitos um testemunho de força e potência para a comunidade LGBT no Brasil e de valorização de corpos dissidentes.
Durante a sua passagem recente pelo Brasil, a artista conversou com o TMDQA! e você confere o resultado deste papo logo abaixo!
TMDQA! Entrevista Slim Soledad
TMDQA!: Olá Slim, tudo bem? Muito prazer! Obrigado pelo seu tempo! Por onde você está agora?
Slim Soledad: Tudo bem e você? Obrigada!! Estou aqui em Guarulhos, na casa dos meus pais, e amanhã tô voltando pra Paris.
TMDQA!: Que legal! Eu quero saber como tem sido sua passagem pelo Brasil? Você é um símbolo de inovação na música eletrônica, misturando funk, techno, trance, já passou por diversos festivais internacionais, mas como é estar tocando no Brasil e a recepção do público? Eu vi você em um vídeo nas redes sociais falando que, quando você toca ao vivo, te leva meio que pra um estado de hipnose. Como tem sido estar próxima do público brasileiro?
Slim Soledad: Desde que eu cheguei no Brasil eu tenho me sentido muito amada e muito querida por todo mundo! Não só aqui, mas eu toquei também na Argentina, e essa parte da América do Sul, tem sido muito gratificante.
Eu acho que as coisas aqui me atravessam de outro jeito. Eu acho que as coisas que são mais valorizadas aqui na América do Sul são diferentes do que o que a galera valoriza na Europa. Acho que além do meu som, eu sinto que as pessoas daqui se conectam mais comigo, com a minha estética, com meu lifestyle, isso me deixa muito feliz.
TMDQA!: Eu acho incrível porque acaba inspirando outras pessoas, né? Às vezes você tá tocando e tem alguém no público que pode ser tocado de uma maneira diferente. Acho que a música tem muito disso. E é muito forte…
Slim Soledad: Sim… Verdade.
TMDQA!: Falando dessa sua temporada por aqui, você tocou no Time Warp, na edição de 30 anos desse festival que é um símbolo do universo da música eletrônica. Como foi pra você estar nesse line up?
Slim Soledad: Estar no Time Warp foi um choque, porque é um festival de música eletrônica bem segmentado. E fazer esse show foi um grande susto, porque eu estava do lado de nomes tão grandes da música eletrônica. Pra mim, ter sido escalada foi um grande susto. Eu sei que já faz 6 anos que eu tenho trabalhado com música, mas eu só não esperava mesmo tocar tão cedo no Time Warp!
TMDQA!: Isso é muito massa! Porque é sinal que você está no mesmo nível dessa galera de muitos anos. Incrível! E como você definiria o seu som em um adjetivo? Tô te perguntando isso porque o Time Warp definiu como “brutal, sexy, anárquico e caótico” – eu achei muito interessante, mas queria saber de você.
Slim Soledad: Eu acho que meu som é eufórico, é um estado de euforia.
TMDQA!: Muito bom. E tem muita relação com esse abraço ao caos, né? Essa euforia é perceptível em “T.E.T.A. Intergaláctica” e eu queria entender um pouco sobre o processo de criação desse trabalho. Como ouvinte, a gente consegue perceber as referências que você traz, vendo o clipe e ouvindo a música. Chega em determinado momento e tem bateria de escola de samba, é muito original, é muito inventivo e tem muita sonoridade latina…
Slim Soledad: “T.E.T.A.” vem de um processo muito longo. Eu comecei a fazer uma residência em Portugal com a Iki (Yos), com quem eu fiz o feat, e com uma outra amiga. E a Iki começou a fazer essa poesia de “T.E.T.A.” e eu falava: “Amiga, a gente precisa transformar isso em música”. No meu processo criativo, eu tento tirar proveito dos meus erros e eu tento deixar com que as músicas que eu faço respirem, sabe? Às vezes eu começo a produzir e eu não gosto das músicas que eu faço, eu sou muito crítica comigo e eu preciso dar tempo pras coisas.
Eu acho que meu processo criativo, no geral, é também brincar com essa parte do desconforto comigo. Porque eu começo a produzir, começo a gostar do que eu tô fazendo, aí eu escuto mais um pouco… e não gosto do que eu tô fazendo e fico desconfortável com isso.
Aí eu volto de novo e olho com mais carinho pro que eu tenho feito. Eu sei que tudo que eu tenho criado é muito novo. Às vezes eu posso acabar me frustrando por não agradar todo mundo e não fazer um Pop mais quadrado, que não tenha refrão, começo, meio e fim… e eu acho que eu tenho tentado abraçar o experimental.
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TMDQA!: E eu acho que faz parte dessa criação “irregular”, sabe? Não precisa abraçar o Pop se você não quiser, você vai pro caminho da sua arte. Você acha que você é muito dura consigo mesma? E o quanto influencia a cobrança de quando os outros vão ouvir?
Slim Soledad: Eu tenho tentado ser mais gentil comigo mesma. A internet acaba colocando a gente num lugar de que a gente precisa estar produzindo o tempo todo, criando o tempo todo, postando toda hora, sendo essa máquina. E eu acho que muitos artistas acabam não respeitando o processo de cada um e acabam virando essas máquinas, sabe?
Eu tenho tentado olhar para o meu processo com mais calma e mais gentileza. Deixando minhas músicas respirarem e pensar que eu tenho que me agradar primeiramente; depois que eu me agradar eu consigo compartilhar com outras pessoas.
TMDQA!: Perfeito. Ainda mais nesse ponto, que a gente tá em constante criação… Entender que você não é uma máquina é muito importante para sua arte. E não tem como a gente falar sobre o seu trabalho sem falar sobre o Coletivo Chernobyl… queria que você falasse um pouco mais sobre o trabalho que é feito por vocês e a importância dele pra comunidade LGBTQIAP+ no Brasil e no mundo, né? Porque a partir do momento que você tá tocando nas principais casas do mundo e indo para festivais internacionais, você tá atingindo pessoas não só no Brasil, mas no mundo inteiro.
Slim Soledad: O Coletivo começou há 8 anos comigo e esse nome vem por conta de uns ataques que uma amiga sofria na internet aqui no Brasil, que as pessoas escreviam para ela voltar para Chernobyl. E resumindo, num geral, a gente vem tentando retomar e fazer o coletivo andar de novo, mas a ideia sempre foi proporcionar um espaço seguro para pessoas queers, fazer um espaço onde esses corpos se sintam confortáveis, mostrar que nossos corpos celebram, vão para as festas e a gente não tem vergonha de ser quem a gente é.
Mesmo depois que eu me mudei para fora do Brasil, a gente segue tentando fazer o coletivo ser uma plataforma de espaço para as pessoas falarem, e também vamos começar a produzir outras festas em outros países. Mas é algo que estamos movendo com um pouco de lentidão; a gente tem algumas datas futuras, com coletivos da Europa, com outros coletivos queers. Hoje em dia, o coletivo é essa plataforma de comunicação, que também faz festa e sempre foi e sempre vai ser um espaço para dar voz pra pessoas e corpos que são marginalizados de uma maneira geral.
TMDQA!: E isso é fundamental. A gente precisa falar sobre e por aqui a gente se propõe a divulgar as festas e ações, porque coletivos como o Chernobyl são extremamente necessários!
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Para saber mais e convidar nossa audiência pra conhecer e ouvir o som da Slim Soledad, fizemos uma dinâmica de associação, em que artista citou 3 artistas que gosta e traz de referências nas suas músicas e ela contou o porque vão gostar da sua sonoridade:
Se você gosta de Drexciya, você vai gostar de Slim porque: é super trip.
Se você gosta de Linn da Quebrada, você vai gostar de Slim porque: Slim é poética.
Se você gosta de Eartheater, você vai gostar de Slim porque: ela é muito melancólica.
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TMDQA!: E pra finalizar, qual seria o seu feat dos sonhos?
Slim Soledad: Azealia Banks!
TMDQA!: Slim, muito obrigado pelo papo! Obrigado por ter topado essas associações e conta com a gente por aqui. Parabéns pelo projeto e obrigado pela disponibilidade!
Slim: Obrigado pelo seu tempo e por tudo! Foi um prazer falar com você.