De pé numa plataforma no Vale do Anhangabaú e sob um sol escaldante, o rapper Matuê deu inicio à nova era de sua carreira, na última segunda-feira (09), às 15h33, com o lançamento do aguardado álbum 333.
Os fãs esperavam esse projeto há bastante tempo. O primeiro e último disco do rapper cearense, Máquina do Tempo, foi lançado há quatro anos e foi um marco para a indústria musical e o trap brasileiro. O disco elevou o sarrafo e impulsionou a carreira do cantor.
Agora, com mais de 24 horas passadas do início dessa nova fase de Matuê, é possível traçar novos horizontes para sua já bem sucedida carreira e certamente entender parte de sua proposta com o lançamento de 333.
De acordo com o próprio rapper, o novo álbum nasce com a intenção de trazer uma “mensagem positiva para o público”, através de uma gravação feita por meio de métodos analógicos, fugindo dos padrões convencionais, criando faixas que narram uma espécie de odisseia no rap.
A viagem de 333
A impressão ao escutar as 12 novas músicas de Matuê é de que o artista criou uma espécie de trilha sonora para o ouvinte. Ao que parece, o rapper de Fortaleza buscou fugir dos padrões comerciais para levar ao público uma experiência enquanto apresenta uma versão própria mais experimental.
A maneira que Matuê conduz o álbum 333 soa como uma viagem onde as melodias, os instrumentais e seu flow são capazes de despertar diferentes sensações para os ouvintes. Inclusive, a produção e mixagem – novamente – formam o ponto máximo da obra, dando uma aula nesse sentido.
Misturando a estética do trap com instrumentos e texturas dos anos 80, o disco de Matuê consegue flutuar em diferentes sonoridades, criando versatilidade dentro da obra. A produção do disco soa mais complexa do que a maioria das músicas atuais, apresentando muitas camadas.
Como a carreira de Matuê começou no reggae, é de se esperar que sua visão musical seja mais ampla e, no disco 333, essas referências fora do rap foram mais exploradas. O uso da guitarra de Samuel Batista, por exemplo, se tornou um dos pilares da sonoridade do disco. Em “Imagina Esse Cenário”, os tons agudos do instrumento climatizam toda a atmosfera.
Do Indie ao Funk dos Anos 70
Em outros momentos, como na música “O Som”, ele traz o baixo como elemento principal, bebendo da fonte do funk dos anos 70. Na track “04AM” é possível notar uma produção voltada ao pop alternativo, enquanto na faixa bônus “Like This!”, o rapper traz toda a sonoridade do indie rock pra dentro do álbum, criando uma música completamente diferente do que havia apresentado ao longo da carreira.
Um novo Matuê
Algo que sempre me prendeu na obra de Matuê é o método como ele consegue criar uma harmonia singular unindo melodias e autotune. Nesse disco, não foi diferente. Apesar de sair da zona de conforto e da convencionalidade, sua identidade seguiu prevalecendo.
Ao não apostar em uma fórmula comercial, Matuê criou um sentimento agridoce em boa parte dos fãs. Nas redes sociais, parte do público se frustrou pelo fato do rapper não ter criado uma “versão deluxe” de Máquina do Tempo e apostar num projeto mais autoral. Inclusive, na semana passada, escrevi sobre essa relação tóxica entre ouvintes e artistas.
Fato é que artista cearense fugiu do convencional. Em 333, ele concretizou seu amadurecimento musical, explorando um viés artístico ainda mais aprimorado. Estratégia essa feita por outros rappers do primeiro escalão, e que deu muito certo.
Ao apresentar um aprofundamento estético, Matuê prova que seu objetivo vai além do hype instantâneo, e que seu propósito é eternizar a sua obra na cultura.
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