Coringa 2 não convenceu

"Coringa: Delírio a Dois" é uma continuação musical, mas com energia de especial de Natal

Formato musical e falta de conexão com a franquia criam um clima de deslocamento para o segundo filme de Todd Phillips

Foto: Divulgação/Warner
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Desde o anúncio que Coringa: Delírio a Dois seria um musical, muito se discutiu se tamanha ruptura estética faria algum sentido narrativo. A ideia até era boa, Todd Phillips novamente foi ousado, mas nem sempre um grande conceito se transforma em um grande filme.

Na tentativa de revolucionar novamente o subgênero de super-heróis, o segundo filme da franquia simplesmente se esquece de evoluir a história que começou a contar em 2019. Nesse sentido, Coringa: Delírio a Dois dá tanta atenção ao seu formato que deixa de lado aspectos fundamentais, como criar uma jornada que leve seus personagens a lugares diferentes de onde começaram aquela narrativa.

Delírio a Dois se afasta até de musicais tradicionais, uma vez que suas performances acontecem majoritariamente na mente dos protagonistas e não na vida “real”, fazendo a história andar. E aí está um dos seus maiores problemas: os espetáculos musicais são ótimos, mas pouco acrescentam.

Repetição do ciclo e potencial desperdiçado

O público já sabia que o Coringa é um personagem que tem dificuldade para diferenciar o que é real do que é imaginário, pois todo o primeiro filme falou sobre isso. Fazer outro longa sobre o mesmo tema, apenas adicionando músicas para ilustrar essa confusão e Lady Gaga como Arlequina juntando-se ao delírio, não altera em nada a forma como vemos o personagem principal.

Falando em Lady Gaga, Arlequina é um dos potenciais mais desperdiçados. A cantora cumpriu bem todo o papel que lhe foi entregue, mas podia ter sido pedido muito mais. A releitura da história de origem da personagem não é um problema – o que complica é a profundidade de um pires para as suas motivações.

O caos psicológico da mente desses personagens não deveria ser uma muleta para que o roteiro abrisse mão da coesão. Boa parte do que move Arlequina fica apenas subentendido e a mera sugestão, em um ambiente desordenado, não garante que a mensagem seja, de fato, transmitida para o público.

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Foto: Divulgação/Warner

O que faltou para Coringa: Delírio a Dois?

Coringa: Delírio a Dois não é uma tragédia, nem um filme horrível ou intragável, mas ainda falta mostrar muita coisa desse universo para entender o que faz do Coringa uma figura tão emblemática.

Se ele é tão influente entre o público e consegue inspirar grandes massas de pessoas insatisfeitas com o sistema, vire a câmera para essa multidão, mostre a rua, mostre a polícia perdendo o controle em meio à anarquia, mostre esse ícone tão importante que é a cidade de Gotham em si.

Conter o filme em um cenário reduzido e focado no próprio Arthur Fleck é uma escolha acertada quando a intenção é apresentar o personagem e introduzir ao público os fantasmas que o perseguem. No entanto, esticar a corda para uma continuação e manter a ameaça dentro da cabeça do protagonista reduz a escala do que o próprio diretor parece querer estabelecer.

No final de ambas as produções, a cidade vira um pandemônio, o nível de destruição aumenta de escala e a influência do Coringa se mostra maior do que ele próprio parece perceber. Mas somos puxados de volta, de novo, de novo e de novo.

Enquanto Todd Phillips demonstra todo o potencial que tem para extrair o melhor dos ótimos Joaquin Phoenix e Lady Gaga, ele próprio limita o crescimento da obra. Infelizmente, dessa vez, Coringa: Delírio a Dois tem muito mais cara de um especial musical de Natal do que algo canônico na franquia do icônico vilão.

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