A música brasileira é conhecida mundialmente por sua riqueza sonora, mas também por suas capas de álbuns que marcaram época e ficaram gravadas na memória de várias gerações.
Mais do que simples imagens, essas capas ajudaram a contar as histórias por trás dos discos, tornando-se símbolos visuais tão poderosos quanto as músicas que os compõem. Da ousadia tropicalista ao lirismo da MPB e à revolução sonora do rock nacional, essas capas representam momentos cruciais da cultura brasileira, misturando arte, contestação e inovação.
Listamos 10 capas de discos que são verdadeiros ícones da nossa música e que, até hoje, continuam a influenciar artistas e fãs. Vem com a gente!
1 – Tropicália ou Panis et Circencis – Vários Artistas (1968)
A capa de Tropicália ou Panis et Circencis, criada pelo artista Rubens Gerchman, é uma obra cheia de referências culturais e detalhes sutis.
Inspirada no álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles e na estética modernista da Semana de 22, a imagem traz Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé posando como se estivessem em uma foto de família, com forte uso das cores verde e amarelo, remetendo à bandeira do Brasil.
Elementos provocativos, como Rogério Duprat segurando um penico (em alusão à obra de Marcel Duchamp) e Tom Zé com uma mala que simboliza o retirante nordestino, complementam o visual ousado, enquanto os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, de Os Mutantes, aparecem com suas guitarras — que haviam gerado polêmica na época.
Sobre o álbum:
Tropicália ou Panis et Circencis foi um ponto de virada na história da música brasileira, reunindo alguns dos maiores nomes da MPB em uma obra que misturava influências globais com a cultura brasileira. O álbum ajudou a definir o movimento Tropicalista e foi um marco cultural, tanto pela sua sonoridade inovadora quanto pela ousadia política em um período de repressão no país.
2 – Acabou Chorare – Novos Baianos (1972)
A capa de Acabou Chorare, assinada por Antônio Luis (Lula), traz uma imagem simbólica e repleta de significado. A cena apresenta uma mesa de madeira, construída por Pepeu Gomes, com pratos, copos, talheres e panelas desarrumadas, moscas e farinha espalhadas. Essa bagunça organizada representa a “mistura” musical do grupo e o espírito de comunidade que os Novos Baianos viviam em seu famoso sítio.
Sobre o álbum:
Acabou Chorare é uma obra-prima que misturou samba com rock, MPB e outras influências, consolidando os Novos Baianos como um dos grupos mais inovadores da música brasileira. Faixas como “Preta Pretinha” e a própria “Acabou Chorare” se tornaram atemporais, refletindo a liberdade criativa e a descontração que definiram o estilo de vida da banda.
3 – Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)
A capa de Secos & Molhados foi idealizada pelo fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues, que montou uma mesa de jantar com produtos típicos de armazém, como linguiças, cebolas e vinho barato, simbolizando o nome da banda.
As cabeças dos integrantes Ney Matogrosso, João Ricardo, Gérson Conrad e Marcelo Frias (baterista que não seguiu com o grupo) foram colocadas em bandejas, como uma cena para “deleite gastronômico”. A icônica imagem foi produzida durante uma madrugada inteira, com os integrantes sentados sobre tijolos.
Em 2001, a capa foi eleita pela Folha de S.Paulo como a melhor da história da música popular brasileira.
Sobre o álbum:
O disco de estreia dos Secos & Molhados foi revolucionário tanto pelo visual quanto pela sonoridade. Misturando MPB, rock e performance teatral, o álbum marcou o início de uma nova era na música brasileira. Sucessos como “Sangue Latino” e “O Vira” fizeram o grupo se destacar e ganhar notoriedade nacional rapidamente.
4 – Clube da Esquina – Milton Nascimento e Lô Borges (1972)
A capa de Clube da Esquina traz a imagem de dois meninos, Cacau e Tonho, fotografados em uma estrada de terra em Nova Friburgo.
Por muitos anos, acreditou-se que os garotos da capa eram Milton Nascimento e Lô Borges, mas, em 2012, uma reportagem revelou a verdadeira identidade deles. A dupla passou quatro décadas sem saber que estava na capa de um dos álbuns mais icônicos do Brasil.
Desde então, Cacau e Tonho pediram na Justiça uma indenização por uso indevido de imagem, e, em 2023, a Justiça deu ganho de causa a Milton e Lô.
Sobre o álbum:
Clube da Esquina é uma obra-prima colaborativa, combinando MPB, jazz, rock e influências internacionais, resultando em uma sonoridade única e inovadora. O álbum é considerado um marco na música brasileira, com faixas como “Tudo o Que Você Podia Ser” e “Cais”, que continuam a ressoar fortemente na MPB.
5- Da Lama ao Caos – Chico Science & Nação Zumbi (1994)
Com o surgimento do movimento Manguebeat em 1991, a capa de Da Lama ao Caos, desenvolvida pelo estúdio de design Dolores e Morales, idealizado por Hilton Lacerda e Helder Aragão (Dj Dolores), trouxe uma identidade visual inovadora.
A arte é uma colagem abstrata com retículas estouradas e cores vibrantes, onde se percebe a imagem desfigurada de um caranguejo — símbolo do movimento. A ideia era transmitir a fusão de tecnologia e cultura popular nordestina, algo que o disco representava. Feita com recortes de fotocópias e edições em software gráfico, a criação mesclava processos analógicos e digitais, algo raro na época.
Sobre o álbum:
Da Lama ao Caos marcou a estreia de Chico Science & Nação Zumbi e foi um divisor de águas para o movimento manguebeat. Misturando rock, hip-hop, maracatu e música eletrônica, o álbum se tornou um símbolo de inovação na música brasileira dos anos 90, com faixas como “A Cidade” e “Da Lama ao Caos” se tornando hinos do gênero.
6 – Cabeça Dinossauro – Titãs (1986)
A capa de Cabeça Dinossauro é baseada no esboço “A expressão de um homem urrando”, do pintor italiano Leonardo da Vinci, cedido pelo Museu do Louvre. A contracapa traz outra ilustração de Da Vinci, “Cabeça grotesca”. A arte remete diretamente à ideia de barbárie, simbolizando a violência e a desigualdade social que o Brasil enfrentava na época, logo após o fim da ditadura militar.
Sobre o álbum:
Cabeça Dinossauro foi um divisor de águas na carreira dos Titãs, sendo o primeiro disco de ouro da banda e o mais agressivo em termos sonoros. Com faixas icônicas como “Família”, “Bichos Escrotos”, “Polícia” e “Homem Primata”, o álbum trouxe críticas sociais afiadas e se consolidou como um dos maiores do rock brasileiro.
7 – Sobrevivendo no Inferno – Racionais MC’s (1997)
A capa de Sobrevivendo no Inferno apresenta uma cruz sobre um fundo preto, acompanhada da frase do Salmo 23: “refrigere minha alma e guia-me pelo caminho da justiça”.
A arte, criada por Marcos Marques, foi inspirada na cruz tatuada no braço de Mano Brown, após a banda rejeitar a ideia inicial de uma foto em frente a uma igreja. A simplicidade da capa reflete a gravidade das temáticas do álbum, que discute desigualdade social, racismo e a realidade das periferias brasileiras.
Sobre o álbum:
Sobrevivendo no Inferno é um dos álbuns mais importantes do rap brasileiro, abordando a violência policial, o racismo e a desigualdade social de forma direta e impactante. Com faixas como “Diário de um Detento” e “Capítulo 4, Versículo 3”, o álbum se tornou um documento essencial da realidade urbana no Brasil. Em 2015, o álbum ganhou ainda mais reconhecimento quando o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, presenteou o Papa Francisco com uma cópia.
8 – Roots – Sepultura (1996)
A capa de Roots foi criada pelo artista Michael R. Whelan e inspirada em um retrato de um menino indígena presente na nota de mil cruzeiros, refletindo o conceito de “raízes” que norteia o álbum. A imagem captura a essência do disco, que mistura heavy metal com influências da cultura indígena brasileira, especialmente na faixa “Itsári”, gravada com índios Xavante.
Sobre o álbum:
Roots foi um divisor de águas no mundo do metal e na carreira do Sepultura, trazendo inovações com berimbaus, tambores e guitarras afinadas em tons mais baixos. O álbum, que vendeu cerca de dois milhões de cópias, foi um marco ao integrar elementos da cultura brasileira com o som pesado do metal, tornando-se o maior sucesso comercial da banda.
9 – Chico Buarque de Hollanda – Chico Buarque (1966)
A capa de Chico Buarque de Hollanda foi resultado de um debate entre Chico Buarque, que queria uma foto séria, e a gravadora, que preferia uma imagem sorridente. Para resolver a questão, ambas as fotos foram incluídas, criando uma capa que, mais de 50 anos depois, se tornaria um meme amplamente compartilhado na internet.
Chico relembra que, como um artista jovem na época, não se sentia à vontade para impor sua visão. Ironicamente, a capa simples e sem grandes pretensões tornou-se um ícone cultural.
Sobre o álbum:
O álbum de estreia Chico Buarque de Hollanda revelou o talento lírico de Chico, com sucessos como “A Banda” e “Pedro Pedreiro”. O disco consolidou seu nome na música brasileira e inaugurou uma carreira que mescla lirismo, crítica social e beleza melódica.
10 – Eu Não Sou Santo – Bezerra da Silva (1990)
A capa do álbum Eu Não Sou Santo apresenta Bezerra da Silva como um “Jesus negro” crucificado, segurando uma arma em cada mão. A ideia veio do fotógrafo Wilton Montenegro, inspirado por uma notícia sobre um ladrão crucificado no Rio de Janeiro.
A imagem icônica, cheia de simbolismos, foi amplamente discutida e suscita diversas interpretações, desde críticas sociais até reflexões sobre a violência urbana.
Sobre o álbum:
Eu Não Sou Santo é um dos álbuns mais emblemáticos de Bezerra da Silva, trazendo o estilo característico de seu samba de malandro, que mistura crítica social e humor ácido. A capa se tornou tão impactante quanto as letras do disco, e foi uma referência visual para o álbum tributo de Marcelo D2 ao cantor.
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