Primeira vez no Brasil

Bandalos Chinos fala ao TMDQA! sobre estreia em palcos brasileiros, novo álbum e a cena rock latino-americana

Em entrevista exclusiva, Goyo Degano fala sobre a primeira vez do Bandalos Chinos no Brasil e o novo momento da banda argentina após 15 anos de carreira

Bandalos Chinos
Crédito: Leandro Frutos

No lineup do Festival Carambola, em Maceió, um nome se destaca entre os mais tradicionais nos eventos de música alternativa brasileira, como Liniker e Juliana Linhares. Bandalos Chinos, banda de indie rock argentina, fará sua primeira apresentação em território nacional após 15 anos de carreira.

A presença do grupo no festival representa uma quebra no distanciamento histórico entre os mercados musicais do Brasil e Argentina – países que, apesar da proximidade geográfica, raramente promovem intercâmbios artísticos em formato de turnês ou participações em festivais.

A vinda do grupo ao Brasil é resultado de um trabalho conjunto entre a curadoria do Festival Carambola e o programa Ibermúsicas. De acordo com a sócia-diretora do festival, Didi Magalhães, o interesse pela banda surgiu entre 2019 e 2020, e foi reforçado após membros da equipe assistirem a uma apresentação do grupo em Barcelona. A aproximação definitiva aconteceu durante o MICA, evento de economia criativa realizado em Buenos Aires, onde a produção do festival integrou a delegação brasileira.

Bandalos Chinos

Formado por Goyo Degano (voz), Iñaki Colombo (guitarra e sintetizadores), Salvador Colombo (sintetizadores), Tomás Verduga (guitarra), Matías Verduga (bateria) e Nicolás Rodríguez del Pozo (baixo), o Bandalos Chinos construiu uma discografia sólida desde seu primeiro EP, em 2010.

O grupo ganhou destaque internacional após o lançamento de BACH (2018), trabalho que expandiu suas apresentações para países como México, Estados Unidos e Espanha.

Desde então, a banda consolidou sua sonoridade através da parceria com o produtor Adan Jodorowsky, figura central em seus últimos três álbuns. O sobrenome famoso não é mera coincidência: o músico é filho do diretor francês Alejandro Jodorowsky e da atriz mexicana Valérie Trumblay.

Esta colaboração resultou em um som que mistura elementos do rock alternativo com synths e referências da música pop dos anos 80, marcando presença em festivais como o Primavera Sound e conquistando uma base de fãs consistente na América Latina.

Atualmente, o grupo trabalha em seu próximo disco em Buenos Aires, sob a produção do músico e DJ Fermín. Em entrevista exclusiva antes de sua primeira apresentação no Brasil, Goyo Degano, vocalista da banda, conversou sobre o processo criativo do grupo, as expectativas para o show em Maceió e as transformações na cena musical argentina.

Confira abaixo!

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TMDQA! Entrevista: Bandalos Chinos

TMDQA!: Olá, Goyo! O Bandalos Chinos tem sido parte de uma nova geração que está renovando o rock argentino e latino-americano. Como vocês sentem essa oportunidade e a responsabilidade de representar essa nova onda nos palcos internacionais?

Goyo Degano: A verdade é que essa é a nossa atitude, de entender que além de todo o trabalho necessário, é difícil conseguir algo assim. Então tentamos vivê-lo com gratidão e aproveitá-lo ao máximo. Sabe, antes de poder viajar com minha música, eu não viajava para lugar nenhum, então nos serve para conhecer outras culturas, conhecer outras formas de vida. Então é muito bom e obviamente é uma responsabilidade e tentamos ser coerentes e ser profissionais e dar o melhor de nós cada vez que subimos em qualquer palco. Há algo meio que sagrado no palco para nós.

TMDQA!: Eu estava reouvindo sua discografia e cada um de seus álbuns tem uma identidade única, desde Bach até El Big Blue. Como vocês sentem que evoluiu o som e sua abordagem criativa desde seus primeiros trabalhos até o último disco?

Goyo Degano: Eu acredito que o que mais mudou desde que começamos a fazer música até agora é que, disco a disco, fomos nos dando conta da importância de colocar o foco na canção e que uma vez que chegamos ali, temos as canções que gostamos, é muito mais fácil ir atrás de um som. É meio que a própria canção que vai revelando o som, então da forma como trabalhávamos no início e de como trabalhamos agora, acredito que a evolução maior se deu nisso. E o trabalho da busca de um som e de identidade veio muito de mãos dadas com o trabalho com Adan Jodorowsky na produção dos últimos três discos. Acredito que ele nos acompanhou e foi um grande guia na hora de deixar sua marca e também encontrar nossa própria identidade e nos ajudar a encontrá-la. Acredito que Adan foi um grande artífice também deste som que tem a banda. 

TMDQA!: Total, e isso fica claro nas canções. 

Goyo Degano: Verdade. Desculpe, só quero acrescentar: além disso, Adan é um produtor que tem seu estilo, tem sua marca. É como se ele deixasse sua pincelada, sabe, em algum ponto. E eu acredito que se deu uma boa alquimia entre o trabalho do Adan e o que nós acrescentamos.

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TMDQA!: Com certeza. Eu estava ouvindo “Mi Manera de Ser” e estava pensando que há uma introspecção sobre identidade e sobre o crescimento pessoal nesta canção e fiquei curiosa: como mudou a forma que se veem em si mesmos desde que começaram a banda até hoje?

Goyo Degano: Nossa, mudou muitíssimo porque, bem, a banda começou como uma brincadeira, sabe? Era uma banda de amigos do colégio que fomos nos profissionalizando e isto foi se convertendo em nosso trabalho, nosso estilo de vida. Então, eu acredito que no início era tudo menos sério, de certa forma, e com o tempo foi se tornando… é como falávamos há pouquinho da responsabilidade e de ser respeitosos com o espaço que ocupamos, ser respeitosos com os palcos, com as pessoas que trabalham neles. Deixou de ser uma brincadeira em algum ponto. E eu acredito que ao longo do tempo, pudemos ir vendo a nós mesmos como pessoas que entraram em um caminho de artista, e de poder ir descobrindo o que é que temos dentro e o que é que temos para dizer e o que é que as pessoas se identificam com isso que nós dizemos. 

Então sim, concordo que… que talvez em algum momento, por exemplo, quando fizemos o disco “Paranoia Pop”, foi um ato de introspecção que nos levou por aí a fazer canções como “Mi Manera de Ser”. Porque bem, o trabalho anterior, “Bach”, foi um disco que nos abriu as portas de um monte de lugares. Nós, até antes desse disco, nem sequer viajávamos tanto pela Argentina. E depois que saiu esse disco, começamos a tocar no México, começamos a tocar em um monte de países da América Latina, fomos tocar na Espanha, na Europa, nos Estados Unidos. Agora estamos para ir ao Brasil pela primeira vez. Acredito que desde “Bach” em diante, mudou nossa própria autopercepção. E acredito que agora sim, disco a disco, vai mudando. 

TMDQA!: Sim. Seguimos evoluindo, não?

Goyo Degano: 100%, em movimento. 

TMDQA!: Sim. E bem, você estava falando das viagens, e o Bandalos Chinos tem viajado para muitos países, mas será sua primeira vez no Brasil. E nosso país está meio que isolado do resto do continente pela língua, mas também é algo cultural. E a música em espanhol, em geral, tem tido dificuldades de ingressar no mercado brasileiro. O que você pensa que conectou o público brasileiro com as canções do Bandalos Chinos?

Goyo Degano: Eu acredito que há algo muito relacionado às novas gerações, que temos outra maneira de escutar música, que também com os anos posteriores na internet tivemos a oportunidade de que a música saia simultaneamente em qualquer lugar do mundo. Então, desse modo, ter a possibilidade de escutar todos ao mesmo tempo o mesmo disco, começou a horizontalizar um pouco esta maneira de escutar música. E eu acredito que sim, a partir disso entramos um pouco nas novas gerações das pessoas que escutam música no Brasil, como acredito que também há artistas brasileiros que estão começando a sair do Brasil e a chegar com força a outros lugares da região. Não sei, como vi no caso dos Boogarins, que me surpreendeu muito como é uma banda que mantém sua identidade, mas também consegue conectar com um rock talvez um pouco mais moderno e mais internacional, pode-se dizer. E assim há vários projetos que nos parece que são de artistas novos que estão aparecendo, o Bala Desejo também é uma banda que nós adoramos. Bem, me parece que… Não sei muito bem, veremos o que acontece, agora não sei muito bem por que!

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TMDQA!: Mas somos irmãos, não? Estamos conectados!

Goyo Degano: 100%, 100%! E veja, também há muito input da música brasileira na Argentina, há artistas que se relacionaram muito nos anos 80, nos anos 90 com músicos argentinos e que isso também influenciou um pouco em nosso rock. A relação que tem Caetano com os artistas argentinos, Chico Buarque e Djavan que fazem muitos shows aqui e tiveram um grande impacto.

TMDQA!: E dá pra traçar uma linha de Fito [Paez] com Titãs, e Paralamas do Sucesso com Soda Stereo… Estamos mais perto do que imaginamos.

Goyo Degano: Exato, totalmente!

TMDQA!: Bom, eu sei que vocês estão gravando um novo material de estúdio. O que podem nos adiantar sobre essa nova etapa, em que direção artística estão explorando agora?

Goyo Degano: Agora, para começar, estamos trabalhando com outro produtor e estamos gravando aqui em Buenos Aires, na Argentina, em nosso estúdio, com o qual mudou muito o cenário e o contexto. Então sim, nossa música está indo para lugares novos. O produtor é Fermín, que é um produtor e um artista jovem que trabalha com diferentes gêneros musicais, tem uma cabeça muito grande e muito aberta. A verdade é que estamos muito empolgados com ele e com o processo. E posso adiantar que sim, a priori, eu acredito que se nossa música vinha sendo um pouco mais vinculada a uma situação de entardecer, eu acredito que esta música que estamos fazendo é um pouco mais noturna, digamos assim.

TMDQA!: Olha só, ok… 

Goyo Degano: É, como que para colocar para tocar em diferentes horários do dia e da noite. 

TMDQA!: Ah, sim, interessante. Bem, estávamos falando da cena musical na Argentina e podemos dizer que ela está passando por um momento de transformação. Como vocês veem o papel de Bandalos Chinos dentro deste panorama e que conselhos dariam às novas bandas que estão emergindo agora?

Goyo Degano: Está certíssimo isso que você diz, porque é verdade, a Argentina está em um grande momento a nível musical, mas também concordo que está passando por uma transformação. Acredito que nós em algum ponto seguimos sustentando a bandeira das bandas, o trabalho coletivo, que acredito que pós-pandemia se acentuou um pouco a individualidade, porque tivemos que ficar fechados e tinha que passar. Eu acredito que seguimos sendo parte do bastião que sustenta o trabalho coletivo, a busca do trabalho em banda, conectar com diferentes pessoas para fazer força juntos e gerar algo mais potente.

Por outro lado, também acredito que sustentamos um pouco a bandeira da independência e do trabalho coletivo, porque temos contratos e parcerias, mas seguimos sendo independentes essencialmente. Nossa música somos nós que levamos adiante e acredito que também é muito bom poder fazer isso nestes tempos tão corridos. E me parece também que há algo importante nisto de manter as bandas vivas, sabe, em algum ponto, de manter o som ao vivo o mais ativo possível. Tentamos ir a todo lugar com a formação completa, não reduzir ou o menos possível a equipe para poder chegar e dar tudo e fazer o melhor show em qualquer lugar.

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TMDQA!: E falando disso, vocês têm um show no Brasil nos próximos dias. Quais são suas expectativas sobre o público brasileiro? Porque os brasileiros são muito similares aos argentinos quando se fala de música. Somos muito intensos, não?

Goyo Degano: Sim, total. 

TMDQA!: Como você pensa que serão recebidos aqui? 

Goyo Degano: Tomara que muito bem (risos). Cada vez que vou a um lugar novo, tento ir com minha expectativa baixa, sabe? E meio que me deixar atravessar pelo que aconteça e vivê-lo com assombro. Eu acredito que, como dizíamos, somos países irmãos, não há maneira de que sejamos mal recebidos. Mas bem, tento me deixar surpreender um pouco e ver o que acontece. É minha primeira vez no Brasil, então também isso me gera muitas expectativas, tenho muitas vontades de conhecer, então… Ah, então nada! (risos) Veremos o que acontece, eu acredito que vai ser espetacular.

TMDQA!: Sim, eu sei que será, mas eu estou triste porque eu estou longe demais. Não posso ir ao show, mas…

Goyo Degano: Que pena, onde você está?

TMDQA!: Estou no Rio, é que…

Goyo Degano: Temos que fazer um show no Rio.

TMDQA!: Sim, é que tudo no Brasil é muito longe.

Goyo Degano: Sim, sim, sim. É um país muito grande e…

TMDQA!: Sim, e não posso estar presente, mas eu sei que será incrível. Para terminarmos, eu tenho uma pergunta, que talvez seja óbvia. Se pudesse “irse de viaje” hoje, a qualquer lugar do mundo, para onde iria e por quê?

Goyo Degano: Ah, ao Japão, porque tenho muitas vontades de conhecer, me intriga.

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TMDQA!: Maravilha! Muito obrigada, Goyo, pelo seu tempo.

Goyo Degano: Não, por favor, obrigado a você.

TMDQA!: Imagina. Espero que se divirta no Brasil, será muito bom, e depois vocês voltam ao Rio.

Goyo Degano: Tomara que a próxima seja no Rio.

TMDQA!: Sim, muito obrigada e bom trabalho.

Goyo Degano: Obrigado!

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