MUNDO AO NORTE

Convicto, Sant que escrever sua história através do coletivo

Em Convicto, seu mais recente álbum, Sant reúne não apenas suas próprias experiências e volta às próprias raízes

Sant
Crédito: @poetavisual

Desde seus primeiros passos no rap, Sant—nome artístico de Sant’Clair Araújo Alves de Souza—carrega consigo o peso da palavra e a profundidade da vivência. Nascido em Pilares, zona norte do Rio de Janeiro, ele entrou na cena em 2011, inspirado por um freestyle de MC Marechal, que se tornaria seu mentor. Ainda jovem, Sant se destacou por letras maduras, equilibrando reflexões pessoais e críticas sociais contundentes.

Seu primeiro disco, O Que Separa os Homens dos Meninos (2015), marcou um início potente, trazendo a bagagem de uma adolescência conturbada, problemas familiares e dilemas existenciais. Para Sant, a música sempre foi uma forma de entendimento: “Minha música é muito pessoal. Nesse tempo, fui me entendendo, me conhecendo.”

Ele reflete ainda sobre esse período:

“Artisticamente, o primeiro disco é libertador, com toda aquela bagagem da vida. Esses anos de maturidade me ajudaram a entender melhor quem eu sou e o que eu quero expressar.”

Essa abordagem introspectiva o consolidou como um dos grandes nomes do rap nacional, um artista que transcende o “hype” para criar algo que realmente ressoa.

Das dúvidas à convicção

Em Convicto, seu mais recente álbum, Sant reúne não apenas suas próprias experiências, mas as do coletivo que ele representa, resgatando as canetadas afiadas que o consolidaram como um dos grandes nomes do rap nacional.

Lírico e introspectivo, Convicto é também uma volta às raízes. Depois de anos de exploração e maturidade musical, Sant revisita o boom bap com um toque de contemporaneidade. A pluralidade sonora do álbum é acompanhada por uma riqueza visual, com cada faixa ganhando um visualizer que amplia a narrativa e reforça os símbolos do arquétipo do “suburbano convicto”.

Agora, Sant entra em uma nova fase, mas sem perder suas raízes. “Convicto foi um resgate de carreira, olhando um pouco mais pra mim e plantando uma semente para 2025, onde completarei 10 anos do meu primeiro disco,” conta ele. “Esse lançamento foi um passo para eu me posicionar bem, estar consciente e seguro para fazer as minhas paradas.”

O disco traz dez faixas e conta com participações de grandes nomes da cena nacional e internacional. MC Marechal, padrinho de Sant, marca presença ao lado de artistas como Guilty Simpson e Phat Kat. O título do álbum, Convicto, sugere firmeza, mas Sant aborda o conceito com uma nuance filosófica:

“A certeza aprisiona. Em vários momentos do álbum, eu estou bem por estar convicto, mas também mostro que, se você se fechar nisso, pode se limitar.”

Um passo para trás

Se o álbum Rap dos Novos Bandidos (2021) foi um chamado para que outros cantassem as mensagens ali contidas, Convicto é um mergulho interno, um resgate de carreira. “Eu quis ser plural de outras formas. Esse disco é pessoal, mas não é sobre mim. É pelo coletivo”, explica.

O bairro e sua gente ganham protagonismo nas faixas, ecoando a ideia de que as raízes são o alicerce de sua identidade.

“Eu amo a minha Zona Norte. Amo essas pessoas, quero representá-las, quero celebrar isso. Talvez essa seja a maior convicção do disco.”

Convicto não é apenas um disco, é um manifesto do rapper pela sua comunidade. Cada faixa carrega a densidade das experiências de Sant e daqueles que ele representa, mas também a leveza de quem sabe equilibrar rebeldia e arte. A tautográfica “Santorua” homenageia o rapper Flávio Santorua e é um exemplo claro do cuidado de Sant com sua narrativa.

“Eu sempre quis fazer esse tipo de versos quando ouvi ‘Só’, do Kamau. Agora, eu sou fã demais do grupo Antiéticos, que o Santorua fazia parte. Ele tinha uma ideia de fazer uma música eu, ele e o Sain, uma parada toda com a letra S. E isso ficou na minha cabeça, sempre rabiscava essa ideia. E quando ouvi o beat vi a necessidade de colocar isso em prática.”

O olhar coletivo

Mais do que um título, a convicção de Sant se reflete em cada aspecto do álbum, mas não é uma certeza estagnada. Ele mesmo pondera: “Se você se fechar, vai morrer com as suas convicções, sozinho. No máximo, vai ter um público pra filmar e contar pros outros”. O disco é um passo consciente em direção a um futuro onde ele busca dar mais protagonismo à sua arte.

Apesar da introspecção, Sant nunca perde a conexão com o coletivo. “Sempre vou precisar mais da minha área do que ela de mim,” diz ele, reafirmando o amor por sua zona norte e a importância de representar sua comunidade.

“Talvez essa seja a minha maior convicção: eu amo a minha área, amo essas pessoas, quero representá-las, quero celebrar isso.”

Em meio às demandas do mercado, Sant reflete sobre sua trajetória e busca por equilíbrio:

“Eu sou um rebelde, faço músicas para rebeldes. Mas pessoas choram, sonham e celebram também. Por isso, tento encontrar um lugar equilibrado, onde a mensagem seja plural.”

Convicto não é apenas um disco; é um marco na trajetória de Sant. Ao mesmo tempo em que celebra o passado, ele olha para o futuro, com a promessa de manter a poesia das ruas viva e relevante. Nesse equilíbrio entre o individual e o coletivo, entre a certeza e a dúvida, Sant reafirma seu lugar como um dos grandes pensadores do rap nacional.

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