Registro da banda Exclusive Os Cabides, por Mariana Smania
Reprodução: Mariana Smania

Você provavelmente já ouviu alguma canção do Exclusive Os Cabides. Eu sei, esse nome pra lá de esquisito pode soar como uma boa piada, mas na real estamos falando de uma das bandas mais interessantes que emergiram do cenário independente nacional.

Diretamente de Florianópolis, o quinteto formado por Antônio dos Anjos (voz e percussão), João Paulo Pretto (voz e guitarra), Eduardo Possa (guitarra), Carolina Werutsky (bateria), e Maitê (baixo) tem conquistado um espaço pra lá de interessante – de música viral no TikTok até um segundo álbum de estúdio fenomenal, aclamado por público e crítica. Mesclando brasilidades e rock de forma autêntica, o grupo agora tem colocado um plano em prática pra lá de mirabolante: a dominação mundial.

Em turnê que promete abalar o país com shows enérgicos e divertido, o Cabides também aproveita pra passar por grandes palcos, como no próximo mês com o retorno do grandioso Popload Festival.

Aproveitando este momento, nós do TMDQA! conversamos com a banda em uma entrevista pra lá de maluca. Chega mais pra conferir!

TMDQA! Entrevista Exclusive Os Cabides

TMDQA!: Fala galera! Primeiramente, é um prazer conversar com vocês. Estão bem? O que tem acontecido no “mundinho Cabides” nesse exato momento da conversa com uma agenda tão incrível que a banda tem conquistado?

João: A gente vem ensaiando bastante! A gente vem de um fechamento novo aí com a Café8 Music, que tá sendo bem massa, nos ajudando a fechar os shows.
Temos pensado em como vamos fazer esses shows de maneiras legais para as pessoas, montando os sets, enfim… Trabalhando para que os shows que a gente tem para fazer sejam um melhor que o outro, basicamente. É a primeira vez que a gente vai fazer, sei lá, dois/três shows seguidos – sempre foi algo num bate e volta. Tamo numa sequência legal!

TMDQA!: Massa! Vocês finalizaram 2024 com o álbum Coisas Estranhas tendo conquistado muita notoriedade e relevância pela mídia e pelo público. Como se observam atualmente considerando uma trajetória extensa, porém ainda assim, de curta duração? (afinal, o EP de estreia do grupo foi lançado em 2019)

Antônio: Eu acho que o EP de 2019 foi mais eu e o João aprendendo a usar o Garage Band, né? Por causa do nosso amigo Kevin, que é um mashup com o projeto dele ali na época. Então aquilo lá pra gente era algo mais no tipo “é assim que se faz”, porque a gente acabou gostando, estávamos ali nos divertindo. Repercussão só entre amigos, mas tem pérolas naquele álbum.

Eduardo: Eu acho que é uma trajetória que reflete muito a de várias bandas independentes. Não estou falando isso para sei lá, dar uma indireta nem nada assim, mas são apenas fatos, né? Tipo, a gente não tem nenhum pai famoso ou que já veio de uma família de artistas, não tem ninguém que é rico, a maioria das pessoas tem que trabalhar com algo além da música pra conseguir ter uma fonte de renda… Então todas essas dificuldades fazem com que na verdade, a maioria das pessoas ao longo dos anos desista, sabe? Mas as pessoas que, por sorte, conseguem continuar fazendo isso, com o tempo vão construindo essa estrutura que torna a banda possível.
É um acúmulo de pequenas coisas e pequenas e pequenas coisas que vão se somando, fazendo com que a gente tenha o mínimo de estrutura. É o resultado da nossa paciência e do nosso esforço.

TMDQA!: O trabalho do Exclusive Os Cabides preserva bom humor e descompromisso de forma autêntica. Como já relatado publicamente, este segundo disco surgiu a partir dos ensaios e shows que a banda estava fazendo pelo país. Se pudessem definir o que faz o trabalho da banda tão singular para alguém que nunca nem ouviu falar a respeito de vocês, como fariam/o que diriam?

Carolina: Nossa dinâmica é super leve mesmo! Assim, a gente é bem sincero um com o outro, e também nos conhecemos a bastante tempo, né? Mesmo eu tendo entrado na banda recentemente, conheço os meninos e a Maitê de um certo tempo. Eu tinha outra banda, a Maitê tem outro projeto, e a gente meio que vai cruzando os caminhos porque a cena de Floripa não é tão grande, sabe? Tu acaba conhecendo todo mundo.
Mas sei lá, eu acho que isso reflete que nós simplesmente nos divertimos fazendo isso e talvez isso reflita muito em dinâmica e na nossa música! A gente brinca, mas a gente também leva isso a sério, pensamos no sentido de querer fazer isso no máximo de tempo possível e viver disso, mesmo que seja muito difícil aqui no Brasil. Amizade por amizade!

João: Eu acho que no rock tem muito de gente que se leva muito a sério e acaba parecendo um “palhaço da forma ruim”. E eu acho que a gente não faz isso, acho que a gente é o que a gente é de verdade. Às vezes as pessoas não estão acostumadas com isso, né? E tomam um susto, talvez. [risos]

TMDQA!: Falando sobre eventos, é impossível não destacar a presença do quinteto em grandes shows e festivais – inclusive no Popload Festival, onde dividirão o palco com nomes de tanta força para o cenário indie/alternativo em um todo. Queria que vocês contassem um pouco sobre essa oportunidade e do convite pra integrar o line-up que tem uma curadoria tão especial!

Antônio: É uma baita honra mesmo. Mas eu acho que o pessoal tá mais apostando na Exclusive Os Cabides, né? Sei lá, não sei se isso passa só pela mão do Lúcio Ribeiro, mas ele ouviu o álbum (Coisas Estranhas) quando lançou e acabou indo num show nosso. Eu até lembro dele ter publicado uma foto de uma camiseta que ele achou engraçada que eu tinha costurado pro meu amigo, e nas costas tava escrito “Exclusive Os Cabides é uma merda”. Acho que ele gostou e convidou a gente, né?

Carolina: Ele ter ido no show e ele ter mantido a decisão de nos deixar no line, para mim, já é um bom sinal de que ele – não só ele, mas toda a equipe dele, provavelmente outros curadores do festival, estão fazendo uma aposta na gente para estar ali do lado de todos os outros nomes enormes presentes. E é uma responsa! Palcão, tocar no Ibirapuera, e tal.

Antônio: Mas eu acho que é uma boa aposta, porque as pessoas que gostam do line-up do Popload, daqueles nomes fortes do indie, tem de tudo para gostarem das nossas canções também! Estamos bem felizes.

Eduardo: E também tem o fato que vai ser muito legal começar a tocar nesses palcos maiores, porque quando a gente tava gravando as demos de Coisas Estranhas, eu lembro que eu comentei com o João que eu conseguia visualizar aquilo muito funcionando no formato de rock de estádio, sabe? Vai ser bem massa explorar esse formato que antes era só uma ideia. Eu sinto que é assim.
Aí as músicas novas que a gente tá começando a pensar para o próximo álbum, eu acho que todas elas também de um jeito ou de outro tão caminhando para essa direção, sabe De coisas mais simples, mais potentes, mais Rock, totalmente rock de arena. No fim, é aquele nervosismo, uma ansiedade boa.

TMDQA!: Em 2021, o Cabides viralizou nas redes sociais com a faixa “Lagartixa Tropical”, que chamou a atenção de um público diverso. Sendo parte do cenário independente nacional, qual a visão da banda sobre a força das redes sociais para promover o trabalho de artistas e bandas que estão nesse mesmo barco?

Antônio: O que aconteceu com a Exclusive Os Cabides foi uma uma uma viralização não tão alta assim no início, pela nossa própria música, né? As pessoas estavam usando o mesmo áudio, daí consequentemente começaram a ouvir muito, aí começou a dar uns streams ali e tal. Só que já teve um vai e vem de explosões dessa música, umas três ou quatro vezes.
Uma com a gente, outra com um cover de ukulele, depois outra estourou com o áudio da menina tocando o cover de ukulele só que acelerado, aí depois estourou na mão de um outro rapaz tocando com um amigo dele e depois estourou o áudio com uma pessoa que faz ilustrações e tal e é famosa. E no fim, na verdade, a gente não colheu tanto assim. A gente pegou uma música, sei lá, e eu acho que as pessoas dão uma endeusada nesse viés de “viralizar é dar certo”, sabe? Óbvio que é muito massa tu pegar aquela visibilidade, só que eu acho que essas redes sociais ainda tem muitos problemas em dar o verdadeiro reconhecimento para o criador daquela faixa, eu acho que ainda é muito complicado a gente se proteger dessa forma, sabe?
Eu já fui pego em anúncio no TikTok de um de um produto dental que o cara tava, tipo, vendendo aquilo e usando o áudio de um cover da nossa música acelerado, num vídeo patrocinado. O cara não tem direito de usar isso. Eu acho que é legal quando tu consegue pegar as coisas que tu faz na internet e transformar em coisas reais, sabe? É algo que faz parte da estratégia do artista hoje, e eu acho que essa é uma péssima estratégia para artistas independentes, porque eu acho que vale muito mais a pena você ter uma base de fãs que é pequena, mas que tipo, vai nos teus shows.

TMDQA!: Puxando a deixa sobre o cenário independente, quais as maiores dificuldades para se manterem ativos enquanto banda e como observam a cena em Floripa (de onde vieram)?

João: Eu acho que Floripa é um lugar que quando tu tá começando é muito massa, porque tem muitas portas abertas, assim. E tem gente que tá disposta a ouvir e tem um público que tu consegue ver na rua que gosta de rock, sabe? Isso é uma coisa que eu não vejo em todo lugar. E eu acredito que esse público ele é bem variado também, tipo, você sai no centro de Floripa e tem gente que gosta de funk, tem gente que gosta de de rock, e todo mundo fica junto no mesmo lugar.
Geralmente tem shows, tem várias casas legais, é um espaço aberto. Ainda tem muito a melhorar como um todo, mas só vai melhorar com esse movimento que é da galera tocando sempre, se não acabar.

Eduardo: Isso que o João comentou é real. Tem espaço pra todo mundo, e a gente não vive numa cidade gigante, então é normal que tudo seja um pouco menor, né? Tem evento de choro na rua, de samba, de pagode, de funk, tem batalha de rap, enfim. Tem todo esse tipo de música acontecendo de maneira gratuita e inclusiva, todas as subdivisões desses gêneros. É uma cena massa, e igual comentado, pode melhorar, mas acho que é uma cidade que inspira assim as pessoas, sabe?

TMDQA!: O que mais me chama a atenção é a mesclagem de brasilidades e rock que fazem, ainda mais com tantas referências setentistas. O que vocês tem ouvido recentemente que está influenciando no processo criativo do quinteto?

João: Eu tenho ouvido uma banda chamada Madness! É uma banda meio ska, assim. Eu também escuto bastante Doves, principalmente o álbum Lost Souls – na verdade eu escuto ele para me sentir uma pessoa melhor, porque quando tu escuta ele do início ao fim, parece que é aquele bloco estético contínuo. Me inspira um pouco, mas não muito.
E velharias comuns de sempre, rock de velho, rock de tio.

Antônio: Ultimamente, eu andei fazendo um um vídeo para minha marca de roupa que era, tipo, costurando a bolsa e tal, daí eu queria botar um uma música de fundo. E eu botei uma do The Cleaners from Venus, que é uma baita banda. E os álbuns são muito bons, eu acho que é bem inspirador, e se tu botar no YouTube hoje, o cara tá bem velho e tem vários vídeos dele tocando violão. Vai sair um documentário dele muito foda!
Mas eu também diria os próprios The Lemon Twigs, que vão tocar no Popload, e sei lá, eu sempre falo de Pixies e The Flaming Lips. Neil Young inspira bastante sempre que quer uma inspiraçãozinha! [risos]

Eduardo: Eu tô passando por aquele momento que eu acho que todo mundo que trabalha com música em algum momento passa, que tipo, eu tô tendo que gravar tanta coisa assim de amigos [risos] E aí eu tô fazendo tanta música que eu acabo ouvindo o que tá ao meu redor, né? As pessoas trazem a música até mim. Mas sempre tenho o mesmo disco na vitrola, um disco ao vivo do Wes Montgomery!

Maitê: Eu acho que entre nós eu acabo destoando um pouco, porque eu gosto bem mais música brasileira do que música gringa. Eu tenho ouvido algumas bandas nacionais da última safra nos últimos meses, eu fiquei viciadíssima, mais do que eu queria, no disco da PLUMA. Uma banda que sempre vai e volta na minha cabeça também, com qual a gente vai tocar e vai ser muito mais dividir o palco, é o Boogarins.
E gosto particularmente da galera dos anos 60 e 70 que misturava brasilidade com rock. Então, o Clube da Esquina, os primeiros discos do Gil, do Caetano, Novos Baianos, Moraes Moreira… Essa galera que, fazia rock com violão de nylon, eu acho isso muito da hora também. [risos]

Carolina: Eu redescobri uma banda que eu ouvia quando eu era mais adolescentezinha, que é a Failure. Tava ouvindo o álbum chamado Fantastic Planet, que eu acho que é de 96. Eu tava reparando na bateria, é muito massa e uma referência que o baterista da minha banda favorita, desde que eu tenho 12 anos, tem (o baterista do Paramore). Tipo, com certeza eu ouvi o pencas dessa banda. [risos] Eu ando ando meio rockeirinha de 16 anos assim, tava ouvindo Strokes também esses dias. Tô dando umas revisitadas assim, em coisas que eu ouvia quando eu era mais nova, que elas ainda me deixam empolgada, me dá um negócio bom.

TMDQA!: O que o futuro nos reserva para Exclusive Os Cabides, além de uma agenda recheada pelo Brasil?

Carolina: Dominação mundial!

Antônio: Eu espero que a gente continue com vontade de gravar novos álbuns e que os nossos próximos álbuns sempre tenham algo específico de cada um. Eu espero o futuro não faça da gente de patetas ou parar de querer fazer o o puro do rock, que é amizade, compromisso com o time, com o clube, entendeu? [risos]

Maitê: Eu espero e acredito que vai continuar sendo um lugar de diversão, porque a gente já tem que fazer muita coisa nessa vida que não não é dahora. A gente tem que trampar, temos que fazer corres que a gente não gostaríamos de estar fazendo. E a música, acho que é o espaço onde a gente pode ser nós mesmos e fazer o que a gente mais ama.

TMDQA!: Impossível finalizar essa entrevista sem perguntar: Tendo em vista o nome do nosso veículo, vocês também consideram ter mais discos do que amigos? E se pudessem escolher um álbum para definir quem são, qual seria?

Antônio: Puta merda! [risos] Essa pergunta deveria ter sido feita antecipadamente pra eu dar uma resposta boa.

Maitê: Eu vou responder logo então, de cara. Não sei se é o álbum que me definiria, mas é o álbum que eu mais ouço na vida desde que eu sou criança. Não tem nada a ver com o nosso som, mas é o Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão da Marisa Monte.

Carol: Essa pergunta é impossível pra caralho! O Let Splash do The Breeders recentemente está ecoando comigo existencialmente.

João: Pode ser o disco da bunda lá do Strokes. [risos] O Is This It.

Antônio: Não consigo dizer um que me definiria, mas um que claramente me toca é um ao vivo do Zé Ramalho, que ele tá num fundo branco e de perna cruzada!

Eduardo: Para mim o álbum que eu eu acho que me define é o disco do especial de Natal do desenho do Charlie Brown (Peanuts). Foi uma das primeiras vezes que eu lembro de ser criança e senti uma sensação muito profunda por causa de uma música, tá ligado?

É pra ficar de olho!

É fato: essa banda ainda vai dar o que falar ao redor desse país. Você pode conferir todas as datas da turnê do Exclusive Os Cabides clicando logo aqui e seguir o grupo nas redes sociais (@exclusiveoscabides no Instagram, @roubaramtudo no X).

Não perde tempo, hein!

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Eduardo Ferreira, redator no TMDQA!
Pra Ficar de Olho, por Eduardo Ferreira

A coluna “Pra Ficar De Olho” foi idealizada para ir muito além da música, trazendo destaque para artistas e bandas da cena independente e autoral. Estudante de jornalismo pela PUC Minas, Eduardo passou seus 21 anos de vida desenvolvendo uma forte conexão com a música como um todo. Apaixonado principalmente pela MPB e vertentes do rock, colecionador de CDs e discos de vinil e frequentador assíduo de shows, escreve para o TMDQA! e colabora com a coluna "Pra Ficar de Olho", além de fazer coberturas e entrevistas.

A coluna “Pra Ficar De Olho” foi idealizada para ir muito além da música, trazendo destaque para artistas e bandas da cena independente e autoral. Estudante de jornalismo pela PUC Minas, Eduardo passou seus 21 anos de vida desenvolvendo uma forte conexão com a música como um todo. Apaixonado principalmente pela MPB e vertentes do rock, colecionador de CDs e discos de vinil e frequentador assíduo de shows, escreve para o TMDQA! e colabora com a coluna "Pra Ficar de Olho", além de fazer coberturas e entrevistas.