TMDQA! entrevista: Brad Worrell, Hector Castillo e Jean Dolabella

O TMDQA! conversou com os mentores do projeto Converse Rubber Tracks no Brasil.

Hector Castillo e Brad Worrell

Como você já viu por aqui, a Converse trouxe para o Brasil em Janeiro o projeto Rubber Tracks Experience, em que 14 artistas independentes se inscreveram para gravar seus sons em dois dos melhores estúdios do país: o Toca do Bandido no Rio de Janeiro e o Family Mob, em São Paulo. Todo esse aparato com um diferencial: é tudo de graça, como um incentivo para o artista criar e fazer o seu som chegar com qualidade para todo mundo.

Nós do TMDQA! estivemos em uma das gravações em São Paulo e conversamos com Hector Castillo, produtor mundialmente conhecido por trabalhos com gente como Lou Reed, David Bowie e muitos outros que está à frente da produção dos trabalhos do Rubber Tracks, com o Brad Worrell, também produtor musical e um dos responsáveis pelo gerenciamento do Rubber Tracks ao redor do mundo e Jean Dolabella, um dos sócios do Family Mob Studio, local escolhido para as gravações em São Paulo. Acompanhe abaixo a entrevista:

Brad Worrell

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TMDQA!: Como o Rubber Tracks começou?

Brad Worrell:  O projeto foi originalmente concebido porque a Converse não estaria por aí, não existiria, se não fosse pelos músicos. Então a ideia era agradecer de alguma forma à comunidade musical e ao mesmo tempo manter a marca em suas cabeças. Tudo isso foi mais ou menos há três anos, quando nós começamos a procurar algum lugar e nós sabíamos que precisávamos começar no Brooklyn porque há muitas bandas por lá. Então nós encontramos um lugar que tem uma pequena sala de ensaios, um estúdio B em outro canto, um estúdio principal, o A, que tem uma estrutura parecida com este (o Family Mob).

As bandas se cadastram on-line e nós tentamos descobrir quão grandes eles são, quantos shows já fizeram, só para sabermos quão sérios eles são. Nós não mudamos a música que eles fazem e aceitamos trabalhar com qualquer tipo de música, não é só o rock ou a música alternativa. Nós temos bandas de jazz, temos grupos de a capela, temos country… o projeto ficou muito maior do que eu poderia pensar no começo e isso é ótimo. Depois do primeiro ano, nós começamos a ir para várias cidades, então, fomos a Austin no South By Southwest, e passamos uma semana lá gravando com as bandas locais num momento em que as atenções do lugar estavam voltadas apenas para as bandas de todo o mundo que estavam no festival. A experiência foi um grande sucesso, então nós fizemos o mesmo em Toronto, Montreal e no ano passado nós começamos a nos tornar realmente internacionais. Nós fomos para Amsterdam, Hamburgo, México e agora estamos aqui no Brasil.

TMDQA!: O projeto vai se expandir para outro países? Quais são os próximos?  

Brad Worrell: Sim, nós vamos passar por Bogotá na Colômbia, pela cidade do Panamá e outras que eu não posso dizer agora, mas a ideia é que o projeto viaje o mundo todo.

TMDQA!: Como vocês escolhem as cidades e países que vão receber o projeto?

Brad Worrell: Cada país tem sua filial da Converse e eles escolhem. Então, a Converse do Brasil baseada em informações como presença de grandes eventos, onde a música está acontecendo, enfim, com base em vários dados eles selecionam.

TMDQA!: Para terminar… você tem mais discos que amigos? 

Brad Worrell: Provavelmente. Eu tenho muitos amigos, mas eu também tenho muitos discos, então… 


 

Hector Castillo

TMDQA!: Você já produziu vários grandes artistas em todo o mundo. Como você se sente trabalhando com bandas independentes? 

Hector Castillo: Eu amo. Eu acho ótimo trabalhar com bandas que estão no estúdio provavelmente pela primeira ou segunda vez.  Eles não têm manias que nós precisamos corrigir ou recriar, está tudo muito novo em suas cabeças, eles querem fazer coisas novas e você pode experimentar de um jeito que não dá mais para fazer com alguém que já tem mais experiência. Eles são muito jovens, chegam muito perto do microfone e gritam e você tem que posicioná-los do jeito certo, mostrar como funciona. É diferente de quando você trabalha com alguém teoricamente mais experiente que sabe fazer e que você não tem tanta liberdade para ensinar.

TMDQA!: Vocês já descobriram alguma banda que fez grandes shows por meio desse tipo de projeto?

Hector Castillo: Isso depende de quão grande você acredita que eles são. Eles são muito jovens ainda, são independentes e no Rubber Tracks a gente começa a trabalhar com eles no início. Vocês podem dizer que eles estão em seu caminho. E nós damos um empurrãozinho…

TMDQA!: E você? Tem mais discos que amigos? 

Hector Castillo: Claro! Muito mais!

Jean Dolabella

TMDQA!: E você Jean, como você vê a música independente no Brasil hoje? 

Jean Dolabella: Acho que a música está acontecendo no mundo inteiro e isso é ótimo. Mas o rock está num momento anestesiado. Estamos precisando de motivo para fazer coisas maiores acontecerem. Todos os movimentos que aconteceram musicalmente dependeram de alguma coisa ou de algum momento para ser fortes também, sabe? Eu acho que hoje em dia, por toda essa facilidade de informação que você tem, de você assistir shows e de ver bandas do mundo inteiro, isso é muito bom porque te dá muita opção, muita coisa nova pra escutar, mas ao mesmo tempo te deixa meio preso num lugar que é confortável, que você não precisa revolucionar nada. E o rock eu acho que precisa de uma revolução para virar rock, entende?

Acho que as bandas hoje em dia estão muito mais preocupadas com o tanto de views que eles têm no Youtube ou com a quantidade de amigos que eles têm no Facebook do que com fazer a música ser uma coisa realmente, artisticamente foda. Às vezes o material que a pessoa te mandou está incrível, a página no Facebook tem mil curtidas, mas aí você ouve o negócio e é ruim, ou é fraco. Ao invés de ensaiar, de curtir, o cara está mais preocupado em por a foto do ensaio no Instagram.

Generalizando, acho que estamos vivendo um momento ruim, mas que precisamos disso pra crescer. Porque tendo menos banda você acaba tendo menos espaço, as pessoas que tem casa de show precisam de dinheiro e vão abrir as portas para quem movimenta, que são o sertanejo universitário, o funk carioca e outras coisas assim e isso tudo vira uma bola de neve.

No fim das contas ninguém quer ter culpa de nada, mas todo mundo tem culpa. Aí vai o cara lá e reclama que o rock tá acabando porque não tem lugar pra tocar. Não acho que é só lugar. Nos anos 90 a galera fazia show no meio da rua, não tinha essa de “ter lugar pra tocar”. Montava um movimento, fazia uma bandeira e tocava e falava que é isso aqui que eu quero pra minha vida. E por ser tão real e verdadeiro, as pessoas vão se juntando, se agregando e isso é o que vira um movimento mesmo. Falando do movimento musical hoje em dia, eu acho que está todo mundo meio que tentando achar uma nova saída. A gravadora não sabe mais o que faz porque disco não vende mais, o artista não sabe se dá um pouco do dinheiro do merchandising pra gravadora tentar achar alguma coisa nova para fazer… acho que está todo mundo tentando achar um caminho para sair desse momento meio “caído” da indústria.

TMDQA!: E onde o Family Mob entra em tudo isso? 

Jean Dolabella: Eu acho que tem muitos artistas que estão tentando se encontrar no meio dessa bagunça e fazer música de verdade. E muito disso é o que fez a gente montar esse estúdio do jeito que ele é hoje. Eu e o Estevam, meu sócio aqui, tivemos a ideia de fazer um lugar que desse inspiração, ao invés de fazer um lugar que fosse só outra fábrica de discos. Porque fábrica de disco não dá inspiração. Você chega num lugar que tem os melhores equipamentos do mundo, mas o lugar é todo frio. Você vai tirar um som bom dali, mas e a energia? E aquele negócio que você gravava na fita, que o Led Zeppelin fez e que você chora quando escuta? Isso se perdeu ao longo dos anos.

Eu não vou culpar o mundo digital por isso, acho que é muito comodismo culpar a tecnologia. Acho que é falta de ter inspiração mesmo, ter alguma coisa que te inspire. Então o negócio é sentar aqui para escutar um disco e depois ir lá pra dentro pra gravar uma batera. Então a gente fez esse estúdio com toda essa decoração que é meio casa, meio hotel velho, para tentar trazer o artista aqui pra ele ter um dia de inspiração. Pra ele testar coisas antigas, como uma mesa de som dos anos 70, um gravador de fita dos anos 60, ter opções de sabores pra o cara experimentar. E isso te inspira a fazer um riff que nunca teria saído se você estivesse num lugar todo frio. O objetivo do estúdio é virar essa casa que traz inspiração.

O estúdio também é uma casa meio híbrida, a gente já recebeu eventos, muita gente gosta de vir aqui por conta desse ambiente mais diferente que a gente tem. Nós já fizemos workshop da Heineken, lançamento da Deezer, agora o Rubber Tracks, enfim, fazemos muita coisa por aqui.

Acho que é um lugar que transmite essa coisa meio utópica de acreditar em arte, sabe? E eu sou meio isso. Eu acredito em arte  e em música desde que eu nasci e eu vou ser assim até morrer. Eu acho que quando você acredita muito nunca coisa e o negócio é real, você não tem nem que pensar na probabilidade de dar certo porque isso já é dar certo. A partir do momento em que você tenta, você acredita, você vai ser, essa é a minha verdade. E todo mundo que trabalha aqui com a gente é assim. O nosso objetivo é agregar gente que tem essa cabeça também, está com essa sede também de fazer coisas artísticas, que são relevantes para a música.

Bom, pra ele a gente nem perguntou se ele tem ou não mais discos que amigos. Tá meio na cara, né?

Confira abaixo algumas imagens do estúdio. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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