São 10 anos de banda. E são 10 faixas de disco. Disco mesmo, LP, o primeiro vinil do Ludov, que saiu graças à ajuda dos fãs em um financiamento coletivo. E são dez faixas que assustam. Quer dizer, você sabe que é o Ludov da voz incrivelmente bela da Vanessa Krongold, dos backing vocals do Habacuque Lima e do Mauro Motoki, das batidas fixas da bateria do Paulo Chapolim… Mas assim como já adiantava o primeiro single do trabalho, “Copo de Mar”, Miragem vem ao mundo com um Ludov mais maduro, mais experiente e, por que não dizer? Mais pesado e melancólico.
Me explico: a alegria inocente de grandes sucessos como “Princesa” e “Dois a Rodar” já não tem mais vez desde que nos acostumamos a ouvir um som mais sério da banda paulista, como “Reprise”, “O Salto e A Queda” e “Contêiner”. Mas ouvindo coisas novas como “Congelar” e “Sétima Arte” só dá para se confirmar: a simplicidade das músicas daquele início de carreira já está longe do que o Ludov quer deixar registrado em sua história.
A primeira canção do trabalho é “Copo de Mar” e, seguida por “Na Fila do B52’s” ela dá o tom de todo o trabalho: um mix de tudo que é possível fazer com o pop cheio de efeitos da banda, misturados à uma melancolia que dói no coração, mas que é gostosa de ouvir. “Cidade Natal”, é uma mistura de saudosismo com orgulho, nos versinhos comoventes “E num mapa ilustrado está / Cada descrição das memórias de um lugar / Escola, prédio, lago, ponte, lar, avenida / De onde veio e pra onde foi? / Quem eu era e quem eu sou?” e com a insistência do violão que permeia a canção.
Outro destaque do trabalho é “De Cima do Muro”, um sinal da alegria solar do Ludov de outros tempos, com vocais em brasa no final e a marcação forte do baixo e da bateria. Uma curiosidade a respeito dessa música é que, assim como quase todas as outras do disco, ela foi composta por toda a banda, dentro do estúdio, mas com cada um em um canto escrevendo versos que não sabiam como iriam se encaixar na música completa. O resultado ficou tão preciso que deixa a sensação de que os 10 anos de convivência do grupo enquanto Ludov realmente os fizeram se conhecer muito, muito bem.
A balada “Reparação” é um presente aos corações partidos. A voz gritada de Vanessa jogando na sua cara os versos “Não é luta, nem competição / Amor é droga! Edifica!” misturados a um teclado setentista te jogam de volta à uma época que você não viveu, mas lhe cairia bem. “Perspectiva” é mais uma daquelas baladas do estilo de “Magnética” e “Zen”, mas dá voz ao amor platônico e a beleza da observação. “Pra admirar melhor me afastei / Eu me afastei / De tanto que admirei…” são os mais repetidos no som, e que ficam na cabeça mesmo dias depois de você ouvir o disco inteiro.
Para finalizar, os Reco-Synths, sintetizadores analógicos construídos pelo Arthur Joly no estúdio Reco-Head, em que a banda se trancou para gravar o trabalho, aparecem com mais força em “O Fim da Paisagem”, com suas nuances tão suaves quanto uma paisagem cheia de cor, de forma, mas que se dissolve depois deixando só a leveza do som, como uma miragem mesmo (opa!).
A sensação de ouvir Miragem é a de reencontrar velhos amigos, daqueles que não se via há um bom tempo, e dedica-lhes algumas horas para contar velhas notícias, descobrindo depois que tudo aquilo não passou de um sonho bom. É o Ludov de volta, depois de um longo jejum de discos cheios, mostrando que esse espaço todo lhes carregou de mais experiência, mais vivência e mais conteúdo para nos presentear com o que há de mais intrínseco na vida desses paulistanos: o dom de fazer beleza em forma de música.
Nota: 7 / 10